segunda-feira, 20 de julho de 2009

Alemanha a 50 euros por dia - Parte 1


Foto: Portão de Brandemburgo. (Kriss Szkurlatowski)

Na minha visão ressentida com a língua portuguesa, eu diria que o maior patrimônio alemão na atualidade é o trema.
Os dois pontinhos em cima das palavras dão leveza ao que, a princípio, parece impronunciável. Certo, nem só de schwäbisch, chucrute e salsicha ou Mercedes-Benz, Audi e BMW – a reconhecida indústria automotiva alemã – vive o país.

Aos olhos da história contemporânea a Alemanha deveria ser considerada o território mais importante do século 20. Foi arena de duas grandes guerras e, parece mentira, mas há tão somente duas décadas era dividida por uma enorme parede de concreto que envergonhava o mundo.

O Muro de Berlim, que separou o país em Oriental e Ocidental, foi um dos maiores golpes ao direito sagrado de ir e vir das pessoas. Passado superado, a tristeza do entorno do muro deu lugar a uma praça futurista com prédios de arquitetura quase retorcida – ponto de encontro de 10 entre 10 visitantes que aportam à capital do país.

Hoje a Alemanha - terra natal de Beethoven, um dos maiores compositores clássicos que a humanidade conheceu, tem uma narrativa moderna. É sede de um importante festival de cinema e produz as melhores cervejas do planeta, como a Kölsch, a que nunca esquenta - produzida na cidade de Colônia. Prost!

O FIM DOS ESTEREÓTIPOS

Nem todo mundo inclui a Alemanha numa primeira viagem à Europa. Aliás, nem na segunda ou terceira pisada por aqui. O país não tem o apelo das praias mediterrâneas, fala um idioma difícil (uma vogal a cada cinco consoantes!) e os alemães não são, assim, tão espontâneos como um italiano, por exemplo.

Palermices do nosso preconceito turistóide. Não nego, a Itália parece ser mais candente. Em Portugal o idioma também tem lá suas excentricidades, mas é bem mais fácil do que tentar decifrar as placas de Nurembergue.

O que você precisa saber é que as diferenças entre a Alemanha e seus vizinhos estão justamente no seu modo de perceber o país. Os germânicos celebram a história mantendo os melhores museus e memoriais do continente. Lagos e montanhas revelam paisagens únicas e rotas consagradas para passeios bucólicos e pastoris. De grandes centros a paragens provincianas sempre há uma ampla infraestrutura especialmente preparada para receber você.

O BARATO DA ALEMANHA

BERLIM - O mais atraente da cidade é a Berlim Oriental, reconstruída, renovada e na moda. Bater perna neste lado da cidade é grátis e você vai (re) viver boa parte dos acontecimentos que mudaram os rumos da História. Depois de babar na Sony Center - a praça futurista (com cafés, lojas e cinema) que deu brilho à apagada região do muro visite a cúpula de vidro do Reichstag, o Parlamento Alemão. O edifício oferece uma vista perfeita da cidade, mas como tem entrada gratuita, a fila é sempre enorme. Chegue cedo. O Centro de Documentação do Muro de Berlim (Dokumentationszentrum Berliner Mauer) retrata a história pura. São fotos e vídeos que contam a separação de famílias e a política repressiva. Entrada gratuita, fecha às segundas-feiras. Perca-se pela Unter den Linden, a rua mais famosa da cidade, construída há quase 400 anos. A capital da Alemanha está esparramada. Você vai precisar do transporte público que cobre bem toda a cidade. O bilhete diário para a zona Tageskarte AB custa 6,10 euros. Para Postdam - a Versalhes alemã nos arredores de Berlim, onde é possível conhecer o imperial Palácio de Sansoucci, compre o ABC que sai por 6,50 euros. Site da cidade: www.berlin-tourist-information.de

COLÔNIA - A cidade está a 4h30 de Berlim por trem e abriga a Dom, uma das maiores catedrais góticas do mundo e a principal da Alemanha. Além da arquitetura espetacular, os restos mortais dos três reis magos - Baltazar, Melchior e Gaspar – descansam, supostamente, num relicário de ouro guardado no interior da construção. Entrada gratuita. Para subir na torre são módicos 2, 50 euros. Site da cidade: www.koeln.de

FRANKFURT - Sempre foi a cidade da conexão. Muitos turistas fazem dela uma escala para outras cidades europeias. Não sabem o que estão perdendo. A Goethe Haus (Casa Museu de Goethe) , por exemplo, preserva boa parte da construção original onde viveu o mais famoso escritor alemão – Johann Wolfgang Goethe. Entrada a 5 euros. Gratuito às quartas-feiras. Sem contar que a cidade é sede da maior Feira Internacional do Livro do mundo - que este ano acontece de 14 a 18 de outubro. Está 3h40 de trem de Berlim. Site da cidade: www.frankfurt-tourismus.de

HAMBURGO - A tradição de Hamburgo, a 2h30 da capital do país de trem, está na força econômica. É o principal porto do norte da Europa. A cidade é bem espalhada, por isso andar a pé pode cansar, uma vez que os atrativos não estão muito próximos um do outro. Para resolver essa questão compre o Hamburg Card que dá diversos descontos nas atrações e acesso livre ao transporte público. Custa 8 euros por um dia ou 18 euros por três dias. (Mas só se você estiver fazendo uma viagem específica pela Alemanha compensa ficar mais do que 48 horas por aqui). Não deixe de visitar a Hauptkirche - a igreja luterana no centrinho da cidade. Teto com arcos, abóbodas e entrada gratuita. Site da cidade: www.hamburg-tourism.de

MUNIQUE - A capital da Baviera é o segundo destino preferido dos viajantes que vêm à Alemanha, depois de Berlim. Promove a maior Oktoberfest do mundo. A praça Marienplatz deve ser o ponto de partida para conhecer, a pé, os atrativos da cidade. Todos os dias na torre de 85 metros do Rathaus – enorme prédio neogótico da prefeituta, é encenada a dança do Glockenspiel. São 32 bonequinhos contando as batalhas e o folclore de Munique. Grátis. Ali na praça mesmo, no centro de informações turísticas compre a revista Munich City Guide por 1 euro. Nela é sempre possível descobrir algum evento, exposição ou show gratuitos. Está a 6h50 de trem de Berlim. Site da cidade: www.muenchen.de

NUREMBERGUE - Famosa pelo tribunal que julgou os criminosos de guerra nazistas, Nurembergue revolucionou a justiça internacional. Mas você não deve lembrá-la apenas por ter sido picadeiro para as imorais manifestações hitlerianas. A cidade é uma mistura de castelos medievais, muralhas, torres e igrejas. Abriga o maior museu de arte e cultura da Alemanha e os principais pontos de visitação estão em Altstadt, a cidade antiga. Os centros de informações turísticas fornecem gratuitamente um livrinho com a programação local e vendem o Nürnberg Card por 19 euros que dá direito - por dois dias – a usar todo o transporte público e entrada grátis em todos os museus. No entanto, estando em Altstadt você só precisará de transporte para conhecer o Tribunal de Nurembergue e o Centro de Documentação Nazista (entrada a 5 euros) - o maior sobre a guerra e o Holocausto e parada imperdível. Pode compensar o passe para um dia que custa 3,80 euros. Site da cidade: www.tourismos.nuernberg.de

PARA FUGIR DO ÓBVIO

Um dos roteiros mais belos do mundo para se fazer de carro está na Alemanha. A Rota Romântica é um trajeto de 350 quilômetros ao longo da Baviera. Começa em Würzburg, uma cidade forrada de vinhedos e com palácios reconhecidos como patrimônios da humanidade. Depois serão mais 27 lugarejos de cinema. Ou melhor, de conto de fadas. Castelos, monastérios, bosques, vilas, lagos emolduram todo o percurso que vai terminar em Füssen, já nos Alpes - ao sul. Para os megadispostos a rota pode ser feita de bicicleta. O caminho tem excelente sinalização e via ciclística apropriada. E durante todo o fluxo há albergues e pensões para o pouso de cada dia.


Foto: Sony Center, Berlim. (William Ramon)

SEM MARCAR TOUCA

O bom é levar euros. Mas caso chegue à Alemanha com dólares, o câmbio poderá ser feito em muitos lugares como estações de trem, ônibus e lojas especializadas. Só procure a frase Ohne Gebühr - sem taxa - escrita em algum lugar (ou tente pronunciá-la ao atendente). Verifique a cotação. Pode ser a melhor saída (ou entrada) para o seu dinheiro.

Não perca amanhã:  os 15 mais da Alemanha!
E ainda: hospedagem e alimentação econômicas, momento extravagância e informações essenciais.


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11 comentários:

  1. Malu Bueno - Florida21 de julho de 2009 às 06:51

    Estive em Berlim logo apos a queda do muro. O lado oriental era triste, mas pelo que vejo eles se recuperama todo vapor! Aguardando os proximos capitulos aqui! bej

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  2. Um primo meu que foi a Berlim disse que a cidade é tudo de bom. Não conheço, mas vi fotos do museu Franz Kafka, fica a dica pra depois contarem se gostaram hehe

    Beijinhos

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  3. Uma dica de hotéis bem baratos com auto serviço é a rede ETAP, pertencem à rede Accor, são bons para quem viaja de carro porque estão na periferia, para quem não viaja de carro, na maioria das vezes são inviáveis.
    Beijos

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  4. Sílvia, essa série está ficando ótima. Parabéns!!!

    A Alemanha é extremamente organizado e me surpreendi muito com sua beleza quando estive por lá. A Rota Romântica é linda e não vejo a hora de voltar!

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  5. CRIS: só sei do Museu de Franz Kafka em Praga - República Techeca (ele nasceu lá). Mas como Kafka é um dos maiores representates da literatura alemã talvez tenha algum museu dele na Alemanha, mas em Berlim? Não tenho aqui essa informação em nenhuma das minhas anotações. Se puder me informar o site, porque deve valer à pena ir. Só sei de um museu no sul da Alemanhã, na cidade de Marbach, que se chama Museu de Literatura do Modernismo (Literaturmuseum der Moderne, LiMo) e que abriga algumas obras de Kafka, mas de outros autores também. Bjs.

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  6. É verdade, PATI. Lá no e-mail introdutório sobre dicas gerais de hospedagem eu sugiro Formule 1, Etap e Ibis (os três da Rede Accor). O Fórmule 1 pode ficar mais barato até do que um albergue porque o preço é válido para três pessoas. Em Paris, por exemp´lo, está em torno de 40 euros (quarto para três), mas é tãããão longe que demora quase 1 hora para chegar ao centro. No entanto, para os aficionados, isso pode ser só um detalhe. hehehehe. Bjs!

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  7. MALU: a tristeza em volta do muro não existe mais. Tudo virou história e conservação da memória. E a praça Sony Center parece a coisa mais moderna e alegre do mundo! Bjs!

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  8. ALESSANDRO: porque você não posta sobre sua viagem lá no seu blog, com muuuitas fotos para gente babar? Seria genial! Bjs!

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  9. Quando fui a Europa é como você falou, não fui a Alemanha. Mas na próxima tenho que incluir só por estas questões históricas que mencionou. E pontos históricos tão recentes, que fazem parte, de alguma maneira, da vida de todo mundo.

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  10. Oi Silvia,
    Eu jah fiz essa Rota Romantica de Barco pelo Rio Rhine e eh sensacional! Recomendo demais!
    E realmente entre totalmente no clima "Europa a menos de 50 Euros pos dia".
    Usamos o barco "transporte publico" local (que na epoca custou menos de 10 Euros po pessoa), e iamos parando nas cidades que queriamos ver de perto, e depois voltavamos pro barco, e assim seguimos passeio rio acima. NO final do trajeto, pegamo um trem e voltamos a Frankfurt (que realmente foi a parte mais cara da viagem!).
    Pra quem gosta de fotografia entao, o lugar e os castelos, vilarejos, venhedos eh um prato cheio! Imperdivel pra quem quiser fazer alguma coisa diferente na Alemanha!
    http://drieverywhere.eplixo.net/index.php/2007/05/21/cruzeiro-no-reno/

    Bjs
    Dri Miller (Londres)

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  11. DRI! Achei o máximo a dica do Cruzeiro pelo Reno. Li no seu blog, mas não encontrei a informação: onde vocês pegaram o barco e quanto tempo durou o percurso? É passeio de um dia? Bjs!

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