sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Ando devagar porque já tive pressa...


"A verdade está na viagem,
não no porto."

Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio (1940 -)


Foto: Menina fazendo dever da escola. Marrocos, 2006.
Para ver melhor, clique na imagem.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Varig perde rotas internacionais

Vou ter que tirar meu cavalinho da chuva e esquecer – pelo menos por enquanto – das minhas milhas smiles. A Varig perdeu boa parte de suas rotas internacionais. A diretoria da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) decidiu ontem redistribuir alguns dos principais destinos da companhia. Essa briga já dura dois meses, desde quando a Varig foi leiloada. Os compradores pediram prazo para readequar a frota e programar todos os itinerários. Só que demoraram muito. A Anac achou que a demora da empresa em determinar os principais rumos era, na verdade, uma baita enrolação. As rotas foram dadas a TAM, BRA, GOL e OceanAir. OCEANAIR??? Pois essa tal OceanAir - que só há pouco tempo eu soube que existia - recebeu sete freqüências semanais para o México, sete para os Estados Unidos e duas para Angola. Novos tempos, sem dúvida. O presidente da VarigLog (atual dona da Varig) disse que vai recorrer na justiça. Continuo aguardando cenas do próximo capítulo. Chuif.
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domingo, 17 de setembro de 2006

BUENOS AIRES: bairro a bairro


Os pacotes para a capital argentina são, normalmente, de três dias. Pouco. Fiquei cinco. Achei pouco também. Quer dizer, depende do seu estilo e do seu ritmo. Eu gosto de ver tudo nos mííííínimos detalhes. Desde as arandelas usadas nos postes até os tipos de janelas das casas, passando pelos mercados livres, feiras de artesanato e antiguidade, indo pelos pontos mais conhecidos e voltando pelos menos favorecidos. Vi gente rica, gente pobre, casa bonita, casa feia, lugar cheio, lugar vazio. E ainda deixei de visitar um museu, uma feira (que só acontecia aos domingos e eram duas no mesmo dia), assistir a outro show de tango recomendadíssimo e não consegui entrar (e comer) em todos os lugares que haviam me indicado. Por isso, tenho que voltar.

La Boca e o Caminito

Era o bairro que tinha tudo para dar errado: está na boca do porto, foi centro de prostituição e suas casas eram (algumas ainda são), na verdade, casebres improvisados com chapas de aço e zinco para abrigar os imigrantes e a pobreza. Até que apareceu Benito Quinquela Martín, um dos mais populares pintores argentinos. O artista, que viveu até os seis anos em um orfanato e morreu na década de 70, adotou o bairro La Boca quando adulto. Sem imaginar que ali criaria o principal – pelo menos o mais visitado – ponto turístico da cidade, o Caminito (foto acima), Quinquela Martín e alguns amigos saíram pintando uma pequena rua de várias cores, transformando em arco-íris o cinza dos antigos cortiços.

Nas calles ao lado do Caminito se aglomeram diversos ateliês e exposições ao ar livre. É neste bairro, claro, que está o La Bombonera, o estádio do Boca Juniors. Para comer por aqui tente o La Rueda (Calle Magallanes, 854). Parrillada para dois por R$ 20,00. Acompanha salada, batata frita e show de tango ao lado da sua mesa. Ônibus: 25, 29, 33, 64, 152. Não é servido por metrô. Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 15,00

San Telmo e os antiquários

Faz divisa com o La Boca. É o bairro dos antiquários e das principais casas de tango. Mesmo que não goste de antiguidades ou desse tipo de música, San Telmo é obrigatório. Aqui está a parte mais antiga da cidade, com muitos casarões dos séculos 18 e 19. Já foi a região mais rica de Buenos Aires, mas uma epidemia de febre amarela vinda do porto espantou os barões deste recanto. Depois de muitos anos foi redescoberto, os casarões foram restaurados e hoje muitos deles abrigam pequenos hotéis e mais de 500 antiquários, que considero pequenos museus com entrada franca.

Mas se você acha que antiquário é sinônimo de velharia, deixe para visitar a principal feira do bairro, que acontece aos domingos na Plaza Dorrego. É uma Feira de Antiguidades que mistura uma pouco da feira do Largo da Ordem de Curitiba com a Rua Uruguaiana, no Rio de Janeiro. Dá de tudo. Ônibus: 24, 28, 29, 65, 70, 195. Não é servido por metrô. Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 12,00

Montserrat e o Tortoni

O coração político de Buenos Aires está em Montserrat. Neste bairro central as mães da Plaza de Mayo saíram em protesto contra o governo há mais de 30 anos, exigindo a volta do seus filhos desaparecidos nos porões da ditadura militar. Em frente a esta plaza está a Casa Rosada que – dizem os poetas – era uma referência à conciliação política já que as cores dos partidos rivais no século 19 eram branca e vermelha. Mas reza a história que a cor da Casa de Gobierno é mistura de cal e sangue de boi - usada para impermeabilizar as paredes.

Caminhando pela Av. de Mayo em direção ao Congresso Nacional está o Café Tortoni, um entre centenas de cafés que existem na cidade. Mas era neste que se reuniam Borges, às vezes Gardel e - por um período - até García Lorca, que viveu na cidade em 1933. Foi inaugurado em 1858 e preserva tudo intacto: espelhos, cristais, lustres. Oferece show de tango por R$ 25,00.

Entre, sente-se próximo à caricatura de Borges ao fundo e peça um café, tostadas e dois churros. São R$ 10,00 ao lado da mais pura história portenha. Ônibus: 22, 24, 28, 29, 64, 86, 105, 111. Metrô: Para a Plaza de Mayo desça nas Estação Bolívar (Linha E) ou Estação Peru (Linha A) ou Estação Catedral (Linha D). Para sair exatamente em frente ao Tortoni desça na Estação Piedras (Linha A).

O Centro e a Recoleta

Os tradicionalistas que me perdoem, mas Recoleta e Centro - para mim - é tudo a mesma coisa. Por aqui estão o Cemitério da Recoleta, onde o túmulo de Evita Perón é atração e o Museu Nacional de Belas Artes, entrada gratuita - com um acervo interessante (Goya, El Greco, Monet, Van Gogh, Renoir). Nessa região está o Teatro Colón - que não visitei porque está em reforma – e o Obeslico de 67 metros de altura, fincado para celebrar o quatro centenário da fundação de Buenos Aires. Depois há a famosa Calle Florida, o calçadão - cheia de loja evidentes e quiosques vendendo pancho – o cachorro quente deles – e alfajores. Na mesma Florida estão as Galerias Pacífico. Vale a visita pela arquitetura deslumbrante. Mas é um shoppinzão como outro qualquer. Ou seja, estes são os bairros para bater perna sem rumo, observando as pessoas e seu modo viver e/ou comprar. Para jantar, recomendo o lindo e hermoso Suipacha. O lugar é glamouroso, mas oferece bife de chorizo por módicos R$ 9,00.

Destaco que foi na Calle Florida, longe do reduto tangueiro, que vi o melhor show de Buenos Aires já comentado no post O tango da minha vida. O Piazzolla Tango (foto geral acima) está na Galeria Güemes, construída em 1915. Prefiro que as fotos falem por mim:


Abasto e Carlos Gardel


O Abasto pretende se transformar no bairro do tango. Foi aqui que cresceu Carlos Gardel, o maior cantante do gênero e sua casa hoje é um pequeno museu. Com incentivo da prefeitura muitas viviendas, na altura da Calle Zelaya, passaram a pintar suas fachadas com letras de música ou usaram o fileteado, técnica artística portenha.

O Shopping Abasto, antigo mercado municipal, era freqüentado por Gardel. A não ser que você queira fazer compras em lojas tradicionais, é entrar e sair correndo. Mas dedicar algumas horas pelo bairro vale a pena, ainda que esteja bem longe de superar San Telmo ou La Boca. Ônibus: 12, 29, 34, 41, 64, 111, 118, 152, 194. Metrô: Estação Carlos Gardel (Linha B). Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 15,00.

Palermo SoHo e Palermo Hollywood

Tudo era Palermo Viejo. Ainda há um pedaço do bairro que se intitula assim. Mas com aquelas tacadas marketeiras-turísticas de mestre, dividiram o bairro em dois, antes e depois da linha de trem. Agora o must de Buenos Aires está em algum destes Palermos, principalmente no Soho e Hollywood. Eu ia ficar num hotel em San Telmo, aquela coisa tangueira, histórica. Na última hora optei por Palermo Hollywood, fiquei no Solar Soler, um dos Bed & Breakfast mais charmosos da região, instalado num casarão do século 19 totalmente reformado. US$ 55 dólares, o casal, com café da manhã. No SoHo portenho estão as lojas moderninhas, os estilistas de vanguarda, os designers da hora, os descolados dos descolados. Jorge Luís Borges viveu alguns anos por aqui, na Calle Serrano, 2135. Tem também uma Feria Urbana, onde os bambambãs da arte e do design expõem seus trabalhos nos finais de semana. O bairro é gigante, merece um dia inteiro de visita ou voltar em dois diferentes. O melhor dia aqui é sábado. Ônibus: 34, 140, 151, 166. Metrô: Estação Palermo (linha D). Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 16,00.

Puerto Madero


A investida do designer francês Phillippe Starck por aqui começa a dar resultados: Puerto Madero já é o metro quadrado mais caro da Argentina, algo como 2,5 mil dólares. O bairro começou pelo avesso. A idéia (e o investimento) do rico comerciante Eduardo Madero - lá no século 19 – de construir diques em frente ao centro da cidade naufragou feio. A “orla” portenha era decadente e abandonada. Só em 1989 a região passou por um bilionário projeto de reurbanização. Foi tudo restaurado e as docas se transformaram em bares, restaurantes, cinemas, escritórios e até residências. Há inúmeros restaurantes de parrillas libres (mais ou menos um churrasco rodízio). Recomendo – para um momento extravagância - o Siga La Vaca. De segunda a sexta é mais barato, de R$ 80 a R$ 100,00 o casal. Ônibus: 20, 22, 33, 64, 74, 109, 140, 143, 152, 159. Metrô: Está próximo da Estação Bolívar (Linha E), Estação Peru (Linha A), Estação L.N. Alem (Linha B). Táxi do centro até aqui: + ou - uns R$ 12,00.

Seção mão-de-vaca-muquirana

Almoce um - ou dois - pancho: pão, salsicha, mostarda e ketchup. No melhores (e em quase todos) quiosques da cidade. R$ 0,90. Por esse preço, mata ou não mata a fome?

;-)

Fotos: Raul Mattar

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quinta-feira, 14 de setembro de 2006

BUENOS AIRES: 10 motivos para ir...

1. O destino está barato. Um pacote de cinco dias, com avião e hotel, fica em torno de US$ 300,00 – comprado com antecedência e fora dos feriadões. Com este valor você também pode ir para Natal ou Maceió – aliás, outras ótimas opções. A diferença é que Buenos Aires, além de ser um destino internacional, nunca esteve tão disponível aos brasileiros.

2. Acabou a cafonice. O famosésimo designer francês Philippe Starck – o mestre da vida, já deixou a marca dele por aqui. Contratado para recriar todo um quarteirão da cidade, a primeira investida de Starck foi (re) desenhar uma construção inglesa de 100 anos, que hoje abriga o espetacular Hotel Faena, no dique 02 de Puerto Madero (foto acima). Diárias a partir de US$ 350,00. (Quem sabe numa outra vida.) Mas é possível conhecer o hotel-design comendo em um dos seus restaurantes, o El Mercado. Uma pizza, claro. Tem que reservar. Calle Martha Salotti 445, tel. 4010-9000.


3. Parece mesmo um canto da Europa. Um pouco decadente, admito. Mas a cidade nasceu para ser a Paris sul-americana. Quase conseguiu: cheia de cafés, muitas livrarias, edifícios neo-clássico-rococó, praças arborizadas enormes no centro e até Carlos Gardel - dizem - veio de lá.

4. O melhor do tango, obviamente, está aqui. E por toda parte. Há vários estilos: shows no estilo Broadway, intimista ou ao ar livre. Quem não quiser ver (e pagar) pelos grandes espetáculos tem a possibilidade de testemunhar os inúmeros shows na rua. De graça.


5. Cada bairro é um tour – ou uma cidade - diferente. Existem poucas no mundo com esta característica - talvez São Paulo, Jerusalém e a própria Paris. Isso quer dizer que os principais pontos turísticos não são um ponto exatamente, mas alguns quarteirões inteiros. Entre eles La Boca, San Telmo, Palermo e Abasto.

6. É o segundo lugar do mundo – dos que conheço – e talvez o único das américas que tem sorvete de marrom-glacê. (O primeiro é Paris, por supuesto!) Eu me lembro do marrom-glacê daquelas latinhas (iguais as de goiabada) que eu comia inteira quando criança. Pois aqui tem sorvete disso! Se sorvete por si só já é uma perdição, imagine a combinação dessas duas coisas? Procure pela sorveteria Persicco, há vários endereços na cidade.


7. Dá para pegar um táxi de vez em quando sem ter que cortar a janta. Uma corrida da Recoleta (região central) até Palermo Hollywood (onde começa o agito) sai por uns 18 pesos ou o equivalente a R$ 12,00. Para completar, as linhas de metrô servem boa parte da cidade e o passe custa 0,70 centavos de pesos ou 0,50 centavos da nossa moeda. Um leque de abanar moscas. Ou seja, nada!

8. Para quem gosta de produtos em couro, achou o lugar. Mas isso não quer dizer que vai encontrar os melhores preços, mas sim a melhor qualidade.

9. A cidade tem aquelas histórias – parecida em muita coisa com a nossa - de deixar o queixo caído: foi palco de ditaduras devastadoras, recebeu milhares de imigrantes e protagonizou um período de enorme força cultural. Até o espanhol Federico García Lorca morou por aqui no auge da sua carreira.


10. Buenos Aires é a cidade natal do escritor Jorge Luís Borges. Portanto, nada mais a acrescentar.

Fotos: Raul Mattar


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BUENOS AIRES

Antes yo te buscaba en tus confines
que lindan con la tarde y la llanura
y en la verja que guarda una frescura
antigua de cedrones y jazmines.

En la memoria de Palermo estabas,
en su mitología de un pasado
de baraja y puñal y en el dorado
bronce de las inútiles aldabas,

con su mano y sortija. Te sentía
en los patios del Sur y en la creciente
sombra que desdibuja lentamente
su larga recta, al declinar el día.
Ahora estás en mí. Eres mi vaga
suerte, esas cosas que la muerte apaga.

Jorge Luis Borges
1899 - 1986

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

O tango da minha vida

Meu passado me condena. Fui bailarina. Clássica. Daquelas de treinar 8 horas por dia, pés cheios de bolhas, sapatilhas de ponta e apresentações pelos mais variados palcos do Brasil, incluindo o Teatro Guaíra, em Curitiba. Foram 12 anos (DOZE, eu disse!) entre degagés, relevés e demi-pliés. Abandonei a profissão por causa do jornalismo. Da noite para o dia. Nunca me arrependi. Mas sempre digo que jornalista é a minha identidade secreta, porque sou mesmo da dança! Sou vidrada no flamenco, fico impressionada com a dança do ventre, adoro os bailados gaúchos, sou boa na gafieira, arrisco a salsa e fico completamente paralisada ao assistir um tango.

Por isso, minha viagem para Buenos Aires foi pautada por uma rota tangueira. Já visitei os bairros San Telmo (onde estão as principais casas do gênero) e Abasto (onde viveu Carlos Gardel). Assisti a dois espetáculos. Um no El Viejo Almacén, a casa de tango mais antiga da cidade – que traz um concerto mais hollywoodiano. Mas foi no Piazzolla Tango (foto), um antigo cabaré-bordel do século passado todo restaurado que vi o melhor show da minha vida. O local é uma homenagem a Astor Piazzolla que - com sua genialidade - deu ao bandoneón o status que o ritmo merecia.
Foto: Raul Mattar

domingo, 10 de setembro de 2006

Plantão Matraqueando

De Buenos Aires

Tarsila do Amaral, portenha.

A obra suprema da nossa Tarsila do Amaral, o Abaporu (foto), está na Argentina. O Malba – Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires, abriga esta e mais 227 obras do milionário colecionador e mecenas Constantini. Tarsila pintou o Abaporu em 1928 para dar de presente de aniversário a Oswald de Andrade, seu marido na época. Oswald, um dos grandes nomes da literatura moderna brasileira, ficou impressionado com a técnica e a sensibilidade da artista. Foi esta tela que inspirou o Movimento Antropofágico, uma das muitas manifestações artísticas daquele período. Gostaria, humildemente, de saber: COMO O BRASIL DEIXA ESCAPAR UMA OBRA DESSAS?

Bem, como eu ia dizendo, outros artistas que podem ser vistos no Malba são Frida Khalo, Diego Rivera, Roberto Matta, Di Cavalcanti, Antonio Berni, entre outros. Lindo, bem distribuido, com trabalhos clássicos - apesar de modernos. O melhor da arte latino-americana do século XX.
Serviço
Horários:
Avenida Figueroa Alcorta, 3415. Palermo
Quinta a segunda-feira e feriados: 12h às 20h
Quarta-feira: 12h às 21h - Neste dia a entrada é franca.
Terça-feira é fechado.
Entrada: $ 10 (pesos argentinos). Estudantes não pagam.
Foto: Divulgação Malba

sábado, 9 de setembro de 2006

BUENOS AIRES: cinco coisas para NÃO fazer

Em vez de enumerar os “dez mais” vou começar ao contrário. Antes mesmo de chegar ou estando por aqui você NÃO deve:

...pensar que todo argentino dança tango. Por um acaso todo mundo aí sabe sambar?

... falar mal do Maradona ou sequer compará-lo a Pelé. Somos apaixonados por futebol, mas eles são psicóticos. Qualquer menção ao Boca Juniors, por exemplo - mesmo que seja positiva - pode virar mania de perseguição.

... comparar o churrasco brasileiro ao asado criollo argentino. Não tem comparação porque são diferentes. Olha só, bife de lomo é filé mignon e bife de chorizo, o nosso contra filé. Cortado de outro jeito. Ah, e tira de asado é a suculenta costela.

... achar que os preços são marroquinos. A cidade está barata, não nego, mas mesmo depois da crise de 2001 - que levou boa parte dos argentinos à bancarrota - Buenos Aires ainda segue sendo uma meca para estilistas famosos, designers excêntricos e gente rica, muito rica.

... ficar andando só de metrô, que aqui se chama subte. Andar de ônibus pelo centro - fora dos horários de pico, claro – é um baita city tour. Por 0,80 centavos, apenas. Tem táxi também. Mas o Matraqueando não se responsabiliza pelo valor das corridas.

Voltamos a qualquer momento...

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

BUENOS AIRES: como se elege um destino

Estados Unidos, Portugal e Argentina estavam entre os três últimos países da minha lista de destinos. Lista que vai até 2043 – sim, pretendo viajar até os 70 anos, no mínimo. Em relação aos Estados Unidos eu tinha restrições intelectuais, mas por forças de trabalho, estudo e matrimônio - em três anos - desembarquei cinco vezes por lá. Fui e gostei. Portugal, era o primo pobre. Entre tantas opções na Europa, nunca sobrava espaço na minha mala para esse minúsculo país. Foi só encontrar uma passagem barata com conexão em Lisboa, para eu virar freguesa. É o país europeu que mais carimbou meu passaporte. Agora, por conta da paixão pelo español, da admiração por Evita, da loucura pelo tango e dos preços lá no chão achei que era o momento. Se a profecia se cumprir mais uma vez, viro sócia da GOL na ponte-aérea Curitiba-Buenos Aires. Convenhamos, a capital portenha é bem mais cheia de história do que Nova York e bem mais perto do que Lisboa. ¡Ojalá!

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Turismo paz e amor

Costumo dizer que não existe maior declaração de amor à humanidade do que fazer turismo sem preconceito. São centenas de clichês que circundam cidades, regiões e até um povo inteiro. Quem nunca disse que curitibano é “fechado” que atire a primeira pedra. Ou que parisiense não toma banho. Ou que gaúcho é, vamos dizer assim, cabra-macho. Ou que argentino é topetudo e arrogante.

Neste último caso - o dos argentinos - eu não só disse como repeti, enfatizei e assinei embaixo. Porque estereótipo é assim mesmo: uma imagem mental muito simplificada e ignorante sobre um determinado grupo de pessoas. Mas minha ignorância sobre los hermanos durou até conhecer uma querida companheira de trabalho, a Alejandra - cientista política, especializada em terceiro setor, argentina.

Foi quando descobri que essa história de que todos os argentinos eram soberbos não passava de uma cabeluda mentira. Por um acaso todo brasileiro é malandro, sabe sambar ou faz parte do PCC? Pois é essa idéia que muitos fazem de nós lá fora. Aprendi uma coisa: não generalizar nunca.

Eu sei, eu sei, dá vontade de dizer que baiano é lento, que alemão é cachaceiro, que carioca não gosta de trabalhar, que árabe é terrorista, que português é burro, que paulista é frio, que italiano é grosso e que brasileiro é corrupto! Viu, não é verdade. Tem italiano corrupto, paulista lento, árabe burro, brasileiro cachaceiro e português que não gosta de trabalhar. Depende da pessoa, não necessariamente do lugar.

Tudo isso para dizer que, liberta em nome de São Cristóvão – padroeiro dos viajantes - já estou arrumando a cangaia: sobretudo, meia de lã, gorro, luva e um tênis confortável. Vou tomar café na mesma mesa em que o poeta argentino Jorge Luis Borges tomava, vou fazer aulas de tango no mesmo bairro em que Gardel morava, vou ficar em êxtase na livraria El Ateneo, vou ao cemitério da Recoleta deixar uma rosa no túmulo de Evita Perón, vou recorrer calmamente os bairros La Boca, San Telmo e Palermo. Vou me empanturrar de empanadas e alfajores.
¡Hasta la vista!