terça-feira, 19 de dezembro de 2006

São Paulo em três dias

Se alguém me perguntasse o que conhecer em apenas três dias em qualquer uma das gigantes cidades do mundo eu diria: depende, com pouca ou muita disposição? Se a resposta fosse pouca disposição eu completaria: FIQUE EM CASA. Três dias com muita disposição já é pouco para uma capital como Curitiba, imagine São Paulo, a maior cidade desse país.

Então se você se encaixa na segunda opção, não tem erro: escolha UM museu (ou dois, se tiver – assim – muuuita disposição mesmo, até porque entendo que visita a bons museus não levam menos de duas horas), UM mercado municipal (as grandes cidades geralmente têm dois ou mais), UM restaurante de charme (não precisa ser caro ou barato, é importante apenas que você o reconheça como sendo de charme pela decoração, pelos pratos especiais, pela tradição ou pelo excelente atendimento), UMA padaria para tomar café da manhã (ou da tarde) e UM bairro para caminhar sossegadamente (pode optar por dois se estiverem próximos e com fácil acesso um do outro).

Se na redondeza tiver aquele ponto turístico imperdível e famosésimo (um monumento, uma igreja, ruínas) bata ponto nele. Sobrou tempo? Conheça UM parque, qualquer capital tem aos montes. Escolha aquele que os nativos costumam freqüentar. Em 72 horas e nesse ritmo você volta para casa quase dono da cidade que acabou de visitar.
P.D. Já sei, já sei. Este post deveria ter aberto a série sobre São Paulo, mas não aguentei de emoção e já falei do Museu da Língua Portuguesa antes mesmo de apresentar a cidade. Rá rá rá!

Amanhã:

O Mercado Municipal de São Paulo: um festival de cores, cheiros e sabores.

E ainda:

Memorial da América Latina: um extraordinário complexo criado para integrar a cultura latino-americana.

Pinacoteca do Estado: um museu de arte moderna - só o prédio vale a visita.

A Rua 25 de Março: o maior centro atacadista do Brasil.

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segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

São Paulo: onde a literatura vira obra de arte

"Viver é negócio muito perigoso".
Guimarães Rosa

O Museu da Língua Portuguesa foi instalado na Estação da Luz a dedo. A construção foi ponto de encontro das mais diversas línguas imigrantes que chegavam a São Paulo no século 20. Ao lado da trajetória do nosso idioma – que nasceu, há 4 mil anos, em algum território que se estendia da Ásia à Europa – está a espetacular exposição que comemora os 50 anos da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

"Amor só mente para dizer maior verdade".
Guimarães Rosa

Mesmo quem não leu o livro vai poder mergulhar na linguagem primorosa que o discurso rosiano oferece. A mostra consegue retratar a alma do autor e o seu escrever, deixando o lúdico encontro tão arrebatador quanto a própria publicação. Numa sala cheia de varais - que lembram um pouco a literatura de cordel - estão ampliadas folhas datilografadas da 3ª edição do livro. Achei de uma criatividade incrível. Estou tão acostumada aos museus tradicionais do quadro-escultura-obra-louca que fiquei assombrada com a delicadeza da idéia de retratar a literatura de forma tão festiva e inovadora.

"Deus é paciência".
Guimarães Rosa

Os painéis gigantes revelam as alterações e correções que o autor fazia de próprio punho. Uma demonstração de que a composição de textos é um exercício constante e mutável. Revela que o talento de um grande escritor nada mais é que um buscar persistente e inabalável pela forma e conteúdo perfeitos. A gente que escreve - looonge de querer se comparar a um Guimarães Rosa, passa por isso também. Essas linhas que vos apresento não saíram de primeira, desse jeito, limpinhas, prontas para você ler. Já escrevi, reescrevi, pesquisei, mudei palavras, tirei algumas, acrescentei outras. Sem contar que não sei usar as vírgulas e sempre tenho dificuldade com a crase. E mesmo depois de publicado eu mexo no texto. Algo como uma 4ª ou 5ª edição revisada do post.

"Quem desconfia fica sábio".
Guimarães Rosa

Como a linguagem utilizada por Guimarães Rosa ultrapassa as dimensões poéticas pela riqueza de palavras e frases brilhantes, a exposição - além de criar o ambiente agreste e regional de Grande Sertão: Veredas - transpõe o óbvio. Em tambores espalhados pelo salão, trechos das conversas entre Riobaldo e Diadorim, personagens antológicos do livro. Tudo escrito ao contrário, só o espelho permite a leitura correta. O ler aqui não é simplesmente um movimento dos olhos associado a um batimento cardíaco mais forte ou suave. Para entrar no universo do autor o visitante não lê, enxerga.

"Toda saudade é uma espécie de velhice".
Guimarães Rosa

O aforismo (frases ou reflexões de efeito, uma das características lingüísticas da obra) está espalhado pela andar que abriga a exposição. Estão em tijolos as máximas que transformaram Guimarães Rosa em um dos maiores autores do modernismo brasileiro. Entre elas, “toda saudade é uma espécie de velhice” ou “a liberdade é assim, movimentação” e a famosa “viver é negócio muito perigoso”.

"O sertão é do tamanho do mundo".
Guimarães Rosa


A obra, narrada em 1ª pessoa por Riobaldo, ocorre no sertão mineiro, sul da Bahia e Goiás. A narrativa é densa e tem caráter universal – aquela história do homem e seu destino - sendo comparada por muitos à obra-prima Dom Quixote de La Mancha, do espanhol Miguel de Cervantes. Para dar essa idéia de universalidade, outra idéia genial dos organizadores da exposição: os fragmentos escritos nos entulhos. De perto, numa primeira olhada, não é possível decifrar o texto. Parece todo entrecortado. Mas subindo em escadas estrategicamente colocadas em diversos pontos da mostra o visitante consegue identificar a abastança de idéias, o modo de historiar e o uso radical e inteligente que João Guimarães Rosa fez da língua portuguesa.

Serviço:

A mostra Grande Sertão: Veredas está no Museu da Língua Portuguesa por tempo indeterminado.
Local: Estação da Luz. Praça da Luz, nº 01 – São Paulo
Horário: 10h às 18h (última entrada permitida às 17h). De Terça a Domingo.
Ingresso: R$ 4,00 – Estudante paga meia. Menores de 10 anos e professores da rede pública não pagam. A entrada dá direito a conhecer o museu inteiro.

Fotos: Raul Mattar

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domingo, 17 de dezembro de 2006

São Paulo: Museu da Língua Portuguesa

Fuxico. Capim. Axé. Jabuti. Xodó. Caju.
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Prosa, poesia, romance, novela. De Carlos Drummond a Guimarães Rosa. De Gregório de Mattos a Arnaldo Antunes. Um museu sem obras ou esculturas. Um museu de palavras. As que formam o nosso idioma, o brasileiro. Um empório semântico. Uma espécie de secos e molhados da língua portuguesa. Assim, à vontade, feito para quem sabe ler e para quem só sabe falar. Ou ainda para quem prefere só escutar. Dedicado a um idioma formoso e gentil (só nós temos a palavra saudade), mas às vezes confuso e desvairado (alguém já ouviu ou disse dar-se-ia?). Fiquei embasbacada, sem nenhuma palavra.

No entanto, entretanto, contudo. Porém.

São três andares de uma coisa que eu nunca vi em lugar nenhum: um museu que explica, comenta e interage para contar a história de um idioma. Custou R$ 37 milhões e três anos. Um vídeo de 10 minutos - fascinante - sobre a origem da linguagem e das línguas é exibido a cada hora. Ele deve ser o ponto de partida da visita.

Lengalenga. Beleléu. Encafifar. Maracutaia.
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Em seguida, mais 20 minutos dentro de um anfiteatro que parece um planetário de palavras. Muitas projetadas no teto, nas paredes, no chão. Aparecem textos e frases de Euclides da Cunha, Vinícius de Moraes, Machado de Assis, Noel Rosa e até do conterrâneo Fernando Pessoa. Tudo embalado por música e sons. No princípio, o mantra “penetra surdamente no reino das palavras” é entoado umas 30 vezes na voz de Arnaldo Antunes. Fica-se quase em transe. São muitas expressões, termos e vocábulos luminosos e únicos, originados de uma mescla sofisticada dos falares africano e indígena.

Fleuma. Flama. Luz. Força. Garça. Morsa.


O museu fica dentro da Estação da Luz. No segundo andar, você realmente se sente em uma estação de trem. Um telão de 106 metros de comprimento atravessa o edifício histórico de ponta a ponta. São projetados diversos filmes que demonstram, através do cotidiano, a importância da linguagem. Sem ela – escrita ou falada – como seria o nosso carnaval? A música? A culinária? O futebol? O meio? A mensagem? O jornalzinho de bairro? A receita médica? A bula do remédio? O cinema? A internet? Este blog?

Inducação. Hómi. Meis. Véio. Mais pió. Mió de bão.
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A parte de que mais gostei: estas palavrinhas existem e são consideradas CORRETAS – dependendo do lugar em que você está ou com quem você está falando. Um painel interativo explica a diferença entre o Português Brasileiro Popular e o Culto. Segundo os especialistas do museu, quem fala o português popular não fala de forma errada, apenas de acordo com o meio social em que vive. “Falar errado é não se fazer entender em seu meio ou usar uma variedade inadequada para o ambiente em que o falante se encontra”, explica o professor Ataliba de Castilho num dos vídeos à disposição do visitante. Ou seja, se você liga para alguém na roça falando “estaremos chegando amanhã de automóvel”, o caipira é você!

Serviço:
Museu da Língua Portuguesa
Local: Estação da Luz. Praça da Luz, nº 01 – São Paulo
Horário: 10h às 18h (última entrada permitida às 17h). De Terça a Domingo.
Ingresso: R$ 4,00 – Estudante paga meia. Menores de 10 anos e professores da rede pública não pagam.
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Fotos: Raul Mattar

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sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Não vi o apagão

Desde que começaram as sessões de tortura nos aeroportos do Brasil eu não tinha viajado de avião. Não sei se você se lembra, mas o deus-nos-acuda teve início lá no feriadão de 02 de novembro. Aliás, foi a primeira vez que não blasfemei por ter ficado um feriado prolongado no meu santo lar. Foi quase uma premonição (aliada à falta de dinheiro) que me fez optar por desfrutar da vista da minha sacada e usufruir da internacional cozinha Oliveira´s.

Fiz uma viagem curtinha para São Paulo o que poderia ter me rendido um stress até o fim do ano. Mas não. Como meu anjo da guarda é mochileiro, saiu tudo na hora prevista e marcada. Na volta, um atrasinho pequeno. E nada a ver com os controladores ou pane em equipamento. É que o aeroporto de Curitiba (para não variar) estava fechado.

domingo, 10 de dezembro de 2006

São Paulo: museu com esfiha, meu prato predileto

Quando li nos jornais que São Paulo inaugurava um museu que homenageava a nossa língua – ainda sem saber que era o único do mundo nesse estilo – fiquei estupefata com a ousadia dos idealizadores. Senti um orgulho imenso de falar esse idioma cheio de excentricidades e exceções. Já me imaginei descendo do avião na capital paulista, pegando um táxi e dizendo ao chofer: “Para o museu, por favor.” Pirlimpimpim, acordei. Claro, eu provavelmente desceria na rodoviária, procuraria a saída para o metrô ou a fila do ônibus. Mas o destino, ainda assim, seria o mesmo: o Museu de Língua Portuguesa.

Como acredito muito na força do pensamento o meu desejo se realizou. Graças à fada madrinha GOL, vou de avião pelo preço do ônibus. Arrematei uma passagem Curitiba-Congonhas por R$ 64,00. Obviamente, não vou me livrar do metrô. Mas tudo bem, sou interiorana e bem suburbana: acho o m-á-x-i-m-o andar nesses trenzinhos. Serão três dias em São Paulo, uma devassa completa no museu, duas idas à Pinacoteca do Estado, uma visita ao Mercadão Municipal e três esfihas no Jacob da 25 de Março. Depois conto como foi.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Turismo étnico cria Rota do Escravo no Brasil

Olha só que coisa mais brasileira: uma rota turística que mostra a história e a cultura dos negros. Para reconstruir essa trajetória, a Fundação Cultural Palmares - órgão ligado ao Ministério da Cultura – apresentou (e colocou em prática) um projeto audacioso: mapear 18 cidades do interior de São Paulo para formar a Rota do Escravo. Cidades do Litoral Norte, Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira fazem parte do roteiro. Durante o caminho, que pode durar alguns dias, é possível conhecer a gastronomia típica, documentos do período escravocrata e construções históricas.

São seis roteiros diferentes. Cada um aborda de maneira distinta a cultura negra. Ali por Taubaté e Pindamonhagaba é possível aprender um pouco mais sobre a história dos Barões do Café, que tiveram em suas fazendos pura mão de obra negra - escrava ou não. Passando pela antiga São Luís do Paraitinga é a chance de conhecer o que foi a movimentação popular pela Abolição da Escravatura. Para entrar no universo religioso da tradição afro-brasileira, o passeio tem início em Piquete e vai até Cruzeiro ou Cunha.

Além de criar uma rota tão nossa, o projeto vai ajudar a descobrir quem são os verdadeiros descendentes de quilombolas – nome dado pelos historiadores aos moradores dos quilombos. Infelizmente, não posso descrever detalhadamente o roteiro porque não estive por lá ainda, mas achei bacana deixar registrado aqui. Não sei não, mas acho que é o único do gênero do mundo.

20 de novembro: Dia da Consciência Negra.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

O título de "viajada"

Tenho mania de colecionar certificados e diplomas. Deve ser algum complexo de inferioridade ou medo de ficar – ou parecer - burra. Não que certificados e diplomas deixem a gente mais inteligente, mas estudar nunca teve nenhuma contra-indicação. Estes dias me perguntaram por que eu estava fazendo doutorado se nem professora eu era. Credo, que gente invejosa! O fato de estudar (e isso pode incluir apenas ler um bom livro ou assistir a um bom filme) só me torna uma pessoa melhor: mais centrada nos meus propósitos, voltada aos meus projetos e menos preocupada com a vida dos outros.

Mas uma coisa é verdade. Existem títulos que a gente só tem porque pagou o curso. O meu certificado de inglês com 250 horas de aula, por exemplo, é um desses. Outros até aproveitei bem. Fiz corte e costura no Sesc, word no Senac e aulas de Português com o Professor Carlos, em Londrina. Tudo devidamente certificado. Antes já tinha sido influenciada pela mãe que imagina um futuro melhor para o filho: enfrentei aulas de balé (12 anos), pintura em porcelana (cinco anos) e piano (um mês). Até que no meio dessas histórias/cursos eu resolvi começar a viajar. Aos 14 anos fiz uma excursão com os amigos do Colégio Hugo Simas, onde estudei da 1ª a 8ª série. Fui para a Serra Gaúcha. Conheci em uma semaninha Garibaldi, Bento Gonçalves, Canela, Gramado, vinícolas e um dos melhores chocolates do Brasil. Naqueles sete dias aprendi tanta coisa, vi tanta gente, conheci tanta história, tantos personagens... que matutei: quando eu crescer quero ser VIAJANTE!

Primeiro pensei em ser aeromoça, mas me barraram no cursinho preparatório. Naquele tempo tinha que ter altura mínima. Acha? Depois insisti no balé. Pelo menos com o grupo de dança eu viajava para muitos lugares e cheguei a conhecer, com o corpo de baile, o nordeste brasileiro de ônibus! Daí resolvi ser jornalista e a coisa degringolou de vez. Comecei a ter más companhias e, com outra jornalista, fiz minha primeira viagem para a Europa, depois para o Oriente Médio e outras tantas pelo Brasil. Até que um dia, discutindo sobre antropologia (tema que não domino lhufas) com um grupo de amigos, um deles lança: pergunta para a Silvinha, ela é viajada! Foi aí que me dei conta: ser viajada nos inclui naquele grupo de pessoas que todo mundo acha que podemos opinar sobre história, política, museus, astronomia, moda, horóscopo e até antropologia!!!

Acontece que viajar não nos dá esse passaporte para o mundo do conhecimento, assim, de bandeja. Vai conhecer Manaus? Tem que ler sobre o ciclo da borracha. Gostaria de ver de perto o Alhambra, em Granada? Entenda o que foi o domínio árabe na Espanha. Quer ir para Blumenau? É recomendável buscar alguma informação sobre os fluxos migratórios do sul. Está interessado na Rota do Vinho chilena? Aprenda sobre tanino. (Por isso, nunca fiz essa viagem, não consigo entender a religião dos vinhos). Mas meu amigo Gerson, esse – sim – viajadérrimo, está me ensinando muito sobre vinícolas, taças e safras. Foi ele, inclusive, quem me explicou sobre o t-a-n-i-n-o.

É claro, os viajados e as viajadas não estão habilitados a sair dando opinião sobre tudo ou qualquer coisa. Principalmente aqueles que só viajam em excursão, nunca pegam um metrô, não visitam as feiras livres, só comem nos restaurantes indicados pelos guias tradicionais, não se interessam pelos nativos nem pela história do lugar. Mas ainda que seja um título poético, o de viajada é o meu preferido. Afinal, não precisa nem ser rico para ter um. E é bem mais legal que ser inteligente. Rá rá rá.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Saudades de Sevilha...

Juro. Não mexi no céu. O Photoshop não serve para nada em Sevilha. Os anoiteceres da capital andaluza - por volta das 22h no verão - são sempre assim.

No lugar certo, na hora certa. Palácio Real Alcázar. São 10 minutos de sombra, entre 18h50 e 19h. Na parede de mosaicos árabes o reflexo da arquitetura moura. Patrimônio da Humanidade.

Faltaram as castanholas.

A Giralda. É o minarete da antiga mesquita - a Espanha esteve sob domínio árabe por séculos. Hoje, o campanário da catedral. Ao lado, seus arredores.



Deu saudades. Daqui a cinco meses tenho de voltar para lá. Mais uma etapa do doutorado. Prometo tirar fotos das castanholas.

Fotos: Matraca´s Image Bank

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domingo, 5 de novembro de 2006

O milagre de Arraial D´Ajuda


Quando venho para a Costa do Descobrimento divido assim: Porto Seguro pela história, Trancoso pela fama e Arraial D´Ajuda porque simplesmente não existe nada igual. Este povoado, separado de Porto Seguro pelo Rio Buranhén, já foi rota de peregrinação religiosa há 450 anos. Hoje é referência pelas belíssimas praias, como a do Mucugê, e pela deliciosa “Bróduei” - um caminho estreito e colorido de lojas e barzinhos agitados. São dezenas de cabanas e restaurantes de praia super descolados, alternativos e com preços honestos. A psicodélica Arraial é um negocinho desse tamanim, mas abriga mais de 150 pousadas e alguns resorts. Sim, os europeus já descobriram o aconchego dessa alegórica praia brasileira.

O que pouca gente sabe...

O primeiro Santuário Mariano do Brasil está aqui. O Arraial de Nossa Senhora foi uma homenagem a Tomé de Souza e aos primeiros jesuítas que aqui chegaram em 1549, com suas 03 naus: Conceição, Salvador e Ajuda - que acabaram virando nomes de povoados e de suas primeiras igrejas. Diversos milagres foram atribuídos à Fonte de Nossa Senhora D'Ajuda – ainda em pé e aberta à visitação. Os relatos de fé passaram a atrair muita gente e assim os jesuítas abriam as portas de casa para abrigar os romeiros. A partir da década de 70 virou refúgio dos hippies que vinham na rota de Arembepe. E depois disso, você sabe: vieram as celebridades e depois nós, os mortais.

SERVIÇO:

Você pode chegar até Arraial D’Ajuda pegando uma balsa em Porto Seguro. A travessia funciona todos os dias das 7h até às 20h, com intervalos de 20 minutos. Depois, o embarque é de uma em uma hora até às 7h. Ao desembarcar em Arraial é necessário pegar um ônibus ou lotação para chegar ao centrinho. São 4 km. De Arraial D’Ajuda para Trancoso existem ônibus e vans particulares que saem a toda hora de vários pontos da cidade. Se preferir alugue um carro ou moto e faça o trajeto por conta. O trecho já foi asfaltado.
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Arraial D`Ajuda combina com

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Mar e montanha em PORTO SEGURO

Pelo menos uma vez ao dia o mar vira sertão, em Porto Seguro. Quando a maré baixa, enormes piscinas naturais se formam lá no meio do Atlântico. Coroa Alta - a 3,5 km da costa e Recife de Fora - a 9 km - são os mais concorridos. Não precisa comprar as excursões da CVC ou da Panex, que cobram entre R$ 40 e R$ 60,00 pelo passeio. É possível ir sozinho. Existem dezenas de agências pela cidade que oferecem o mesmo percurso por R$ 15,00. Navegando pelo Rio Tiba, ao longo da ilhas de corais, que separa o rio do mar, a gente chega à Coroa Alta. Há várias piscinas naturais e é possível caminhar pelo banco de areia, que surge no meio do mar aberto. Na verdade, de areia o banco tem muito pouco, são formações milenares de detritos marinhos. Por isso, já sabe: nada de trazer "conchinha" para casa. Deixe tudo o que é de lá, lá mesmo.

Em Recife de Fora, a diversidade biológica é semelhante à de Abrolhos, onde são encontradas várias espécies de corais e peixes como paru, peixe-frade, moreia, arraia, budião-papagaio, além de moluscos e tartarugas. As escunas que levam aos bancos de areia e coral partem de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. Leve máscara de mergulho e tênis para não cortar os pés nos corais. Mas se você esquecer dos apetrechos, não se preocupe. Na hora de embarcar aparecem, não se sabe de onde, dezenas de nativos que alugam - bem baratinho - tudo o que você precisa para desfrutar do passeio.

Andando na direção contrária, a 70 quilômetros para o interior está o Parque Nacional de Monte Pascoal. Foi o seu topo que Cabral avistou quando chegava a nossa terra. São 14 mil hectares de uma deslumbrante mata atlântica preservada. Os 535 metros de altitude se transformam numa rampa de 1,5 km, convertida em uma hora de caminhada. Em dias de chuva o Parque fica interditado para turistas, por perigo de deslizamento. Se fizer sol, não perca tempo. Passe um dia em Monte Pascoal e entenda por que Pero Vaz de Caminha não se cansou de elogiar a Terra de Vera Cruz em suas cartas para o rei de Portugal.
Foto: Trek Lens
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segunda-feira, 30 de outubro de 2006

PORTO SEGURO, para expiar os pecados. Ou não.

Se você decidiu que qualquer dia passará suas férias - ou parte dela - em Porto Seguro deve escolher se vai para expiar seus pecados ou para passar uma semana muito agradável no paraíso. Ta certo que é um pedaço pequeno do paraíso. E anjo não é bem o que você vai encontrar por lá. Muito menos tocando harpa e comendo maçã. No entanto, dependendo da sua expectativa em relação à cidade você poderá conhecer, segundo o publicitário Ricardo Freire, o purgatório - ao vivo e a cores.

Exagero. Olha só minha descrição: as praias de águas calmas têm, às margens, uma moldura de coqueiros. Areias grossa e fina se intercalam nas Praias de Curuípe, Mundaí, Itacemirim e Taperapuã- a mais famosa. A Praia do Cruzeiro - de águas limpas, mas escuras - foge à regra devido o encontro do mar com o Rio Buranhén. O fenômeno pode ser visto por quem passa na rua, ao lado da orla. Barracas espalhadas nos cem quilômetros de areia são pontos de encontro dia e noite. Viu, que lindo! Continuando..., ao longo do areião, água de coco é a bebida oficial e o axé (toc, toc, toc, pé de pato, mangalô três vezes), o ritmo sagrado. E aí você pode procurar um padre para se confessar. (Dizem que se a gente se arrepender de todos os pecados antes de morrer, vai por céu - diretinho.)

Foto: Treak Earth

Continua no post abaixo

A Passarela do Álcool


O casario colorido da Passarela do Álcool, um minishopping ao ar livre em Porto Seguro - abre espaço para uma infinidade de lojinhas que vendem desde as tradicionais camisetas “sogra devia ter dois dentes, um para doer e outro para abrir garrafa” até berimbaus e artesanato indígena feito de madeira, coco e argila. Aliás, ir a Porto Seguro e não comprar um berimbau é crime. O problema é onde por o trambolho quando a gente volta para casa.

É à noite que a Passarela do Álcool revela a maior concentração de bares da cidade, onde várias barracas decoradas com arranjos de fruta vendem batidas e o já tradicionalíssimo "Capeta" (ui), bebida típica que mistura vodca, mel, canela, guaraná em pó e leite condensado. Cremdospadre! As melhores opções de restaurantes também estão aqui. Moqueca por R$ 16,00. Para dois. A noite continua nas muitas barracas de praia, que se alternam na promoção dos luaus. Cada dia tem uma festa diferente à beira mar. Sempre regada à música baiana. Nativos tiram os turistas para dançar e o clima caloroso desse povo contamina até o mais tímido e desajeitado que estiver dando sopa por ali.

Dançar faz parte da alma dessa terra. É música o tempo todo, por todos os lados. Mesmo que você tenha vindo para cá, jurando que odeia axé (toc toc toc, sai di mim mizifio!), vai levar um susto se - de repente - já estiver mexendo o pezinho ou batendo os dedos na mesa, acompanhando o compasso contagiante. Um ritmo, que mistura o bom humor e o prazer de uma gente que adora ver você por aqui. Amém.
Foto: Treak Earth

domingo, 22 de outubro de 2006

PORTO SEGURO é a nossa história


Nem mesmo Cabral podia imaginar as belezas que encontraria nessa pequena faixa de terra do litoral baiano quando gritou “Terra à Vista”. O navegador português inaugurou aqui a história do Brasil e fez de toda essa região a chamada Costa do Descobrimento. O marco zero do país, quem diria, só foi oficializado três anos depois da chegada da frota de naus e caravelas lusitanas. Trazido pela expedição de Gonçalo Coelho, em 1503, o pequeno obelisco – batizado de Marco de Posse - está, hoje, no modesto centro histórico de Porto Seguro.


A cidade continuou primitiva até pouco tempo e foi redescoberta por turistas do mundo todo a partir dos anos 70. Porto Seguro, com 100 quilômetros de praia, é sol e mar o ano inteiro. Carrega com todo orgulho, a igreja mais antiga do Brasil, fundada em 1526. A primeira missa, reza a história, foi a 22 quilômetros dali, no município de Cabrália. Mas tudo bem, é tudo pertinho. E ai de quem ousa contrariar e dizer que não foi ali ou foi mais para lá. Cada povoado da região disputa o local exato onde tudo aconteceu. Não importa. A verdade é que começou por aqui, em algum lugar.

Fotos: Raul Mattar
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sábado, 21 de outubro de 2006

Certidão de nascimento do Brasil

Senhor (...) Vossa Alteza:

(...) Houvemos vista de terra! (...) ao qual monte alto o capitão pôs o nome de o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!


(...)Já lá estavam dezoito ou vinte. Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. (...)
Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas,(...) e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.
(...)
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente.
(...)
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Pero Vaz de Caminha


Imagem: Biblioteca Nacional Digital de Lisboa

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

PORTO SEGURO, embarque imediato


Concordo. Porto Seguro está mesmo démodé e faz tempo. Depois dele já vieram Trancoso, Itacaré e Caraíva.
Destino legal é aquele que primeiro só vão os birutas (que a gente chama carinhosamente de hippies), depois chegam as celebridades (que acabam montando um restaurante ou uma pousadinha da hora) depois o lugar é abraçado pelos farofei..., quer dizer - por nós - os mortais. Estive lá três vezes, bem depois dos excêntricos e dos artistas, é verdade.
O destino, pelo custo benefício, é o melhor do Brasil. A minha veia muquirana não resiste: pacotes de 7 dias, com hotel, avião (a-vi-ão!), traslado e city tour por 8 x R$ 66,00 para ficar refestelada numa praia baiana???!!! Isso porque não é sóóó uma praia baiana.
Tem gente que viaja meio mundo para ver ruínas pré-colombianas, atravessa um quarto de Europa para conhecer a casa de Dalí ou se embrenha no deserto para ver pirâmides misteriosas e não vai a Porto Seguro conhecer de pertinho onde o Frei Henrique de Coimbra rezou a primeira missa do Brasil.
Não pelo fato de ser a primeira missa. Podia ser o primeiro rito de candomblé ou a primeira oração do Pastor Coimbra. O que importa é que ali - ou mais ou menos naquela região - está onde tudo começou.
Foto: Raul Mattar
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sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Ando devagar porque já tive pressa...


"A verdade está na viagem,
não no porto."

Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio (1940 -)


Foto: Menina fazendo dever da escola. Marrocos, 2006.
Para ver melhor, clique na imagem.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Varig perde rotas internacionais

Vou ter que tirar meu cavalinho da chuva e esquecer – pelo menos por enquanto – das minhas milhas smiles. A Varig perdeu boa parte de suas rotas internacionais. A diretoria da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) decidiu ontem redistribuir alguns dos principais destinos da companhia. Essa briga já dura dois meses, desde quando a Varig foi leiloada. Os compradores pediram prazo para readequar a frota e programar todos os itinerários. Só que demoraram muito. A Anac achou que a demora da empresa em determinar os principais rumos era, na verdade, uma baita enrolação. As rotas foram dadas a TAM, BRA, GOL e OceanAir. OCEANAIR??? Pois essa tal OceanAir - que só há pouco tempo eu soube que existia - recebeu sete freqüências semanais para o México, sete para os Estados Unidos e duas para Angola. Novos tempos, sem dúvida. O presidente da VarigLog (atual dona da Varig) disse que vai recorrer na justiça. Continuo aguardando cenas do próximo capítulo. Chuif.
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domingo, 17 de setembro de 2006

BUENOS AIRES: bairro a bairro


Os pacotes para a capital argentina são, normalmente, de três dias. Pouco. Fiquei cinco. Achei pouco também. Quer dizer, depende do seu estilo e do seu ritmo. Eu gosto de ver tudo nos mííííínimos detalhes. Desde as arandelas usadas nos postes até os tipos de janelas das casas, passando pelos mercados livres, feiras de artesanato e antiguidade, indo pelos pontos mais conhecidos e voltando pelos menos favorecidos. Vi gente rica, gente pobre, casa bonita, casa feia, lugar cheio, lugar vazio. E ainda deixei de visitar um museu, uma feira (que só acontecia aos domingos e eram duas no mesmo dia), assistir a outro show de tango recomendadíssimo e não consegui entrar (e comer) em todos os lugares que haviam me indicado. Por isso, tenho que voltar.

La Boca e o Caminito

Era o bairro que tinha tudo para dar errado: está na boca do porto, foi centro de prostituição e suas casas eram (algumas ainda são), na verdade, casebres improvisados com chapas de aço e zinco para abrigar os imigrantes e a pobreza. Até que apareceu Benito Quinquela Martín, um dos mais populares pintores argentinos. O artista, que viveu até os seis anos em um orfanato e morreu na década de 70, adotou o bairro La Boca quando adulto. Sem imaginar que ali criaria o principal – pelo menos o mais visitado – ponto turístico da cidade, o Caminito (foto acima), Quinquela Martín e alguns amigos saíram pintando uma pequena rua de várias cores, transformando em arco-íris o cinza dos antigos cortiços.

Nas calles ao lado do Caminito se aglomeram diversos ateliês e exposições ao ar livre. É neste bairro, claro, que está o La Bombonera, o estádio do Boca Juniors. Para comer por aqui tente o La Rueda (Calle Magallanes, 854). Parrillada para dois por R$ 20,00. Acompanha salada, batata frita e show de tango ao lado da sua mesa. Ônibus: 25, 29, 33, 64, 152. Não é servido por metrô. Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 15,00

San Telmo e os antiquários

Faz divisa com o La Boca. É o bairro dos antiquários e das principais casas de tango. Mesmo que não goste de antiguidades ou desse tipo de música, San Telmo é obrigatório. Aqui está a parte mais antiga da cidade, com muitos casarões dos séculos 18 e 19. Já foi a região mais rica de Buenos Aires, mas uma epidemia de febre amarela vinda do porto espantou os barões deste recanto. Depois de muitos anos foi redescoberto, os casarões foram restaurados e hoje muitos deles abrigam pequenos hotéis e mais de 500 antiquários, que considero pequenos museus com entrada franca.

Mas se você acha que antiquário é sinônimo de velharia, deixe para visitar a principal feira do bairro, que acontece aos domingos na Plaza Dorrego. É uma Feira de Antiguidades que mistura uma pouco da feira do Largo da Ordem de Curitiba com a Rua Uruguaiana, no Rio de Janeiro. Dá de tudo. Ônibus: 24, 28, 29, 65, 70, 195. Não é servido por metrô. Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 12,00

Montserrat e o Tortoni

O coração político de Buenos Aires está em Montserrat. Neste bairro central as mães da Plaza de Mayo saíram em protesto contra o governo há mais de 30 anos, exigindo a volta do seus filhos desaparecidos nos porões da ditadura militar. Em frente a esta plaza está a Casa Rosada que – dizem os poetas – era uma referência à conciliação política já que as cores dos partidos rivais no século 19 eram branca e vermelha. Mas reza a história que a cor da Casa de Gobierno é mistura de cal e sangue de boi - usada para impermeabilizar as paredes.

Caminhando pela Av. de Mayo em direção ao Congresso Nacional está o Café Tortoni, um entre centenas de cafés que existem na cidade. Mas era neste que se reuniam Borges, às vezes Gardel e - por um período - até García Lorca, que viveu na cidade em 1933. Foi inaugurado em 1858 e preserva tudo intacto: espelhos, cristais, lustres. Oferece show de tango por R$ 25,00.

Entre, sente-se próximo à caricatura de Borges ao fundo e peça um café, tostadas e dois churros. São R$ 10,00 ao lado da mais pura história portenha. Ônibus: 22, 24, 28, 29, 64, 86, 105, 111. Metrô: Para a Plaza de Mayo desça nas Estação Bolívar (Linha E) ou Estação Peru (Linha A) ou Estação Catedral (Linha D). Para sair exatamente em frente ao Tortoni desça na Estação Piedras (Linha A).

O Centro e a Recoleta

Os tradicionalistas que me perdoem, mas Recoleta e Centro - para mim - é tudo a mesma coisa. Por aqui estão o Cemitério da Recoleta, onde o túmulo de Evita Perón é atração e o Museu Nacional de Belas Artes, entrada gratuita - com um acervo interessante (Goya, El Greco, Monet, Van Gogh, Renoir). Nessa região está o Teatro Colón - que não visitei porque está em reforma – e o Obeslico de 67 metros de altura, fincado para celebrar o quatro centenário da fundação de Buenos Aires. Depois há a famosa Calle Florida, o calçadão - cheia de loja evidentes e quiosques vendendo pancho – o cachorro quente deles – e alfajores. Na mesma Florida estão as Galerias Pacífico. Vale a visita pela arquitetura deslumbrante. Mas é um shoppinzão como outro qualquer. Ou seja, estes são os bairros para bater perna sem rumo, observando as pessoas e seu modo viver e/ou comprar. Para jantar, recomendo o lindo e hermoso Suipacha. O lugar é glamouroso, mas oferece bife de chorizo por módicos R$ 9,00.

Destaco que foi na Calle Florida, longe do reduto tangueiro, que vi o melhor show de Buenos Aires já comentado no post O tango da minha vida. O Piazzolla Tango (foto geral acima) está na Galeria Güemes, construída em 1915. Prefiro que as fotos falem por mim:


Abasto e Carlos Gardel


O Abasto pretende se transformar no bairro do tango. Foi aqui que cresceu Carlos Gardel, o maior cantante do gênero e sua casa hoje é um pequeno museu. Com incentivo da prefeitura muitas viviendas, na altura da Calle Zelaya, passaram a pintar suas fachadas com letras de música ou usaram o fileteado, técnica artística portenha.

O Shopping Abasto, antigo mercado municipal, era freqüentado por Gardel. A não ser que você queira fazer compras em lojas tradicionais, é entrar e sair correndo. Mas dedicar algumas horas pelo bairro vale a pena, ainda que esteja bem longe de superar San Telmo ou La Boca. Ônibus: 12, 29, 34, 41, 64, 111, 118, 152, 194. Metrô: Estação Carlos Gardel (Linha B). Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 15,00.

Palermo SoHo e Palermo Hollywood

Tudo era Palermo Viejo. Ainda há um pedaço do bairro que se intitula assim. Mas com aquelas tacadas marketeiras-turísticas de mestre, dividiram o bairro em dois, antes e depois da linha de trem. Agora o must de Buenos Aires está em algum destes Palermos, principalmente no Soho e Hollywood. Eu ia ficar num hotel em San Telmo, aquela coisa tangueira, histórica. Na última hora optei por Palermo Hollywood, fiquei no Solar Soler, um dos Bed & Breakfast mais charmosos da região, instalado num casarão do século 19 totalmente reformado. US$ 55 dólares, o casal, com café da manhã. No SoHo portenho estão as lojas moderninhas, os estilistas de vanguarda, os designers da hora, os descolados dos descolados. Jorge Luís Borges viveu alguns anos por aqui, na Calle Serrano, 2135. Tem também uma Feria Urbana, onde os bambambãs da arte e do design expõem seus trabalhos nos finais de semana. O bairro é gigante, merece um dia inteiro de visita ou voltar em dois diferentes. O melhor dia aqui é sábado. Ônibus: 34, 140, 151, 166. Metrô: Estação Palermo (linha D). Táxi do centro até aqui: + ou – R$ 16,00.

Puerto Madero


A investida do designer francês Phillippe Starck por aqui começa a dar resultados: Puerto Madero já é o metro quadrado mais caro da Argentina, algo como 2,5 mil dólares. O bairro começou pelo avesso. A idéia (e o investimento) do rico comerciante Eduardo Madero - lá no século 19 – de construir diques em frente ao centro da cidade naufragou feio. A “orla” portenha era decadente e abandonada. Só em 1989 a região passou por um bilionário projeto de reurbanização. Foi tudo restaurado e as docas se transformaram em bares, restaurantes, cinemas, escritórios e até residências. Há inúmeros restaurantes de parrillas libres (mais ou menos um churrasco rodízio). Recomendo – para um momento extravagância - o Siga La Vaca. De segunda a sexta é mais barato, de R$ 80 a R$ 100,00 o casal. Ônibus: 20, 22, 33, 64, 74, 109, 140, 143, 152, 159. Metrô: Está próximo da Estação Bolívar (Linha E), Estação Peru (Linha A), Estação L.N. Alem (Linha B). Táxi do centro até aqui: + ou - uns R$ 12,00.

Seção mão-de-vaca-muquirana

Almoce um - ou dois - pancho: pão, salsicha, mostarda e ketchup. No melhores (e em quase todos) quiosques da cidade. R$ 0,90. Por esse preço, mata ou não mata a fome?

;-)

Fotos: Raul Mattar

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quinta-feira, 14 de setembro de 2006

BUENOS AIRES: 10 motivos para ir...

1. O destino está barato. Um pacote de cinco dias, com avião e hotel, fica em torno de US$ 300,00 – comprado com antecedência e fora dos feriadões. Com este valor você também pode ir para Natal ou Maceió – aliás, outras ótimas opções. A diferença é que Buenos Aires, além de ser um destino internacional, nunca esteve tão disponível aos brasileiros.

2. Acabou a cafonice. O famosésimo designer francês Philippe Starck – o mestre da vida, já deixou a marca dele por aqui. Contratado para recriar todo um quarteirão da cidade, a primeira investida de Starck foi (re) desenhar uma construção inglesa de 100 anos, que hoje abriga o espetacular Hotel Faena, no dique 02 de Puerto Madero (foto acima). Diárias a partir de US$ 350,00. (Quem sabe numa outra vida.) Mas é possível conhecer o hotel-design comendo em um dos seus restaurantes, o El Mercado. Uma pizza, claro. Tem que reservar. Calle Martha Salotti 445, tel. 4010-9000.


3. Parece mesmo um canto da Europa. Um pouco decadente, admito. Mas a cidade nasceu para ser a Paris sul-americana. Quase conseguiu: cheia de cafés, muitas livrarias, edifícios neo-clássico-rococó, praças arborizadas enormes no centro e até Carlos Gardel - dizem - veio de lá.

4. O melhor do tango, obviamente, está aqui. E por toda parte. Há vários estilos: shows no estilo Broadway, intimista ou ao ar livre. Quem não quiser ver (e pagar) pelos grandes espetáculos tem a possibilidade de testemunhar os inúmeros shows na rua. De graça.


5. Cada bairro é um tour – ou uma cidade - diferente. Existem poucas no mundo com esta característica - talvez São Paulo, Jerusalém e a própria Paris. Isso quer dizer que os principais pontos turísticos não são um ponto exatamente, mas alguns quarteirões inteiros. Entre eles La Boca, San Telmo, Palermo e Abasto.

6. É o segundo lugar do mundo – dos que conheço – e talvez o único das américas que tem sorvete de marrom-glacê. (O primeiro é Paris, por supuesto!) Eu me lembro do marrom-glacê daquelas latinhas (iguais as de goiabada) que eu comia inteira quando criança. Pois aqui tem sorvete disso! Se sorvete por si só já é uma perdição, imagine a combinação dessas duas coisas? Procure pela sorveteria Persicco, há vários endereços na cidade.


7. Dá para pegar um táxi de vez em quando sem ter que cortar a janta. Uma corrida da Recoleta (região central) até Palermo Hollywood (onde começa o agito) sai por uns 18 pesos ou o equivalente a R$ 12,00. Para completar, as linhas de metrô servem boa parte da cidade e o passe custa 0,70 centavos de pesos ou 0,50 centavos da nossa moeda. Um leque de abanar moscas. Ou seja, nada!

8. Para quem gosta de produtos em couro, achou o lugar. Mas isso não quer dizer que vai encontrar os melhores preços, mas sim a melhor qualidade.

9. A cidade tem aquelas histórias – parecida em muita coisa com a nossa - de deixar o queixo caído: foi palco de ditaduras devastadoras, recebeu milhares de imigrantes e protagonizou um período de enorme força cultural. Até o espanhol Federico García Lorca morou por aqui no auge da sua carreira.


10. Buenos Aires é a cidade natal do escritor Jorge Luís Borges. Portanto, nada mais a acrescentar.

Fotos: Raul Mattar


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BUENOS AIRES

Antes yo te buscaba en tus confines
que lindan con la tarde y la llanura
y en la verja que guarda una frescura
antigua de cedrones y jazmines.

En la memoria de Palermo estabas,
en su mitología de un pasado
de baraja y puñal y en el dorado
bronce de las inútiles aldabas,

con su mano y sortija. Te sentía
en los patios del Sur y en la creciente
sombra que desdibuja lentamente
su larga recta, al declinar el día.
Ahora estás en mí. Eres mi vaga
suerte, esas cosas que la muerte apaga.

Jorge Luis Borges
1899 - 1986

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

O tango da minha vida

Meu passado me condena. Fui bailarina. Clássica. Daquelas de treinar 8 horas por dia, pés cheios de bolhas, sapatilhas de ponta e apresentações pelos mais variados palcos do Brasil, incluindo o Teatro Guaíra, em Curitiba. Foram 12 anos (DOZE, eu disse!) entre degagés, relevés e demi-pliés. Abandonei a profissão por causa do jornalismo. Da noite para o dia. Nunca me arrependi. Mas sempre digo que jornalista é a minha identidade secreta, porque sou mesmo da dança! Sou vidrada no flamenco, fico impressionada com a dança do ventre, adoro os bailados gaúchos, sou boa na gafieira, arrisco a salsa e fico completamente paralisada ao assistir um tango.

Por isso, minha viagem para Buenos Aires foi pautada por uma rota tangueira. Já visitei os bairros San Telmo (onde estão as principais casas do gênero) e Abasto (onde viveu Carlos Gardel). Assisti a dois espetáculos. Um no El Viejo Almacén, a casa de tango mais antiga da cidade – que traz um concerto mais hollywoodiano. Mas foi no Piazzolla Tango (foto), um antigo cabaré-bordel do século passado todo restaurado que vi o melhor show da minha vida. O local é uma homenagem a Astor Piazzolla que - com sua genialidade - deu ao bandoneón o status que o ritmo merecia.
Foto: Raul Mattar