Vista do Sena, o rio que corta Paris. (Foto: Diana Dima)
Não saberia dizer quando a história começou, mas até hoje qualquer coisa com pedigree francês tem pinta de ser chique, moderna, elegante, última moda e bem frequentada.
Para entrar no clube dos que têm bom gosto, sabem tudo de vinho, apreciam boa gastronomia, contemplam arte e filme-cabeça é fundamental ter no currículo uma viagem à França. Não que um passeio pelos arrondissements de Paris vá trazer tudo isso a você.
Mas há séculos o país dita moda e impõe debates que vão da segregação racial à união civil de pessoas do mesmo sexo. A França é politizada - a revolta estudantil de 1968 é referência até hoje - e apesar da avalanche de turistas (recebe em torno de 73 milhões de pessoas por ano) mantém intacta sua identidade.
A Revolução Francesa colocou fim à monarquia, mas nem Jean-Marie Le Pen - o ultraconservador político que faz José Sarney se sentir o último dos comunistas - mitiga o sopro sedutor que impõe vossa alteza, os franceses.
COTIDIANO RURAL, S'IL VOUS PLAÎT
Interprete seu destino. Não procure a França para depois falar mal dela. Concordo, existe uma certa resistência dos nativos em falar inglês. Aproveite você, então, para arriscar um Bonjour Madame ou Bonjour Monsieur.
Torre Eiffel, em Paris. (Foto: Guillaume Jautzy)
Esqueça essa papagaiada de que francês não toma banho. Os melhores perfumes vêm de lá, mas não para disfarçar qualquer cheirinho diferenciado e, sim, porque eles - quase sempre - são muito bons no que fazem. E c’est fini.
Em tempo: a França não se resume a Paris. Mas todo mundo (ou quase) só quer saber dela. De fato, a cidade introduz a riqueza cultural que você vai encontrar aonde vá pelo país.
Por mais que já tenha sido esquadrinhada pelos guias, ressaltada pelos artistas e exaltada pelos amantes, a capital francesa consegue sempre se reinventar. Seja nos cafés, nos bistrôs ou nos tradicionais monumentos. Motivo para a gente sempre voltar.
Mas você só vai conseguir decifrar o cotidiano do país quando considerar os castelos do Vale do Loire, se embrenhar nos campos de lavanda da Provence, ou degustar os vinhos da Borgonha. Sem falar dos vilarejos simples (e cinematográficos) nas regiões da Bretanha e Normandia, no norte do país.
No seu momento extravagância, consagre-se nos 300 quilômetros de praia da Riviera Francesa. Saint-Tropez, Cannes e Nice esperam você no mais cálido clima mediterrâneo. Não tente se ludibriar, a França é isso mesmo: uma sinopse de boa parte da Europa. Incluindo gente simples e comida regional... caseira.
O BARATO DA FRANÇA
PARIS - Você já deve estar cansado de ler por aí que o mais bonito e divertido de Paris – caminhar pela cidade – é gratuito. Então comece com uma voltinha pelas margens do Sena, o mitológico rio que corta a cidade. Perto dele está a Catedral de Notre-Dame, um enorme templo da Idade Média, onde Napoleão foi coroado em 1804. Entrada gratuita. Para subir nas torres invista 7,50 euros (ou 4,80 para estudantes), mas no primeiro domingo do mês o acesso é gratuito. Outro roteiro de charme de graça é a Champs-Elysées, a avenida com o metro quadrado mais caro da Europa. Cheia de bistrôs, lojas legais e restaurantinhos inteligentes, a super-rua tem o Arco do Triunfo (gratuito no primeiro domingo do mês) numa ponta e o Obelisco da Place de La Concorde na outra. Para um momento despojado opte pelo Quatier Latin, o bairro dos intelectuais, boêmios e estudantes. Por aqui está o Jardim de Luxemburgo, o parque ideal para seu pic-nic francês. Coma sossegadamente uma baguete com queijo por aqui. Talvez você tenha a sorte de se sentar debaixo das mesmas árvores que inspiraram os escritores Baudelaire e Victor Hugo. Entrada gratuita. Em Montmartre, o bairro dos cafés simpáticos, você conhecerá a linda Basílica de Sacré-Coeuer, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, com entrada grátis. Aos pés da construção uma vista sublime da cidade. Mas a melhor visão de Paris, só o cartão-postal mais famoso do mundo poderá conceder. A Torre Eiffel, do alto dos seus 320 metros de altura e de algumas horas na fila para entrar, é o marco da capital francesa. De elevador até o 1º andar são 4,80 euros. Para o 2º, o ingresso custa 7,80 e para chegar ao topo são 12 euros. Subindo a pé o investimento é menor, 4 euros. Mas são 360 degraus até o 1º andar ou 700 até o 2º. No entanto, as melhores vistas (e fotos) da torre são a partir do Champ de Mars e do Trocadéro, que fica na margem oposta do Rio Sena. Dedique uma tarde (para começar) ao Louvre, o museu mais importante do mundo. Entrada a 9 euros. Nas quartas e sextas custa 6 euros a partir das 18h e no primeiro domingo do mês é gratuito. Site da cidade: www.parisinfo.com
Château de Chambord, um dos maiores castelos do Vale do Loire. (Foto: Celine Gros)
VALE DO LOIRE - Bastava ser burguês para ter o direito de construir um castelo no Vallée de la Loire. A moda foi incentivada no século 18 e resultou em uma das regiões mais inspiradoras da França. A cidade de Tours (onde nasceu Balzac) deve ser sua base para conhecer os principais castelos e mansões medievais do vale. Em todas as construções paga-se para entrar. Vale muito a pena conhecer o interior de todas elas. Mas é do lado de fora - sempre grátis - que você leva as melhores impressões deste momento faraó dos franceses. O Château d’Amboise (entrada a 9 euros) está a 20 minutos de Tours. Já o Château de Blois, na cidade de mesmo nome, (a 40 minutos de Tours) está a beira do rio Loire. Entrada a 6,50. Um dos maiores castelos da região, o Château de Chambord (9,50 euros), a 16 quilômetros de Blois produz um lindo espetáculo noturno - com luz e som - durante o verão: o Les Nocturnes Musical acontece todas as noites às 22h (no verão, reforço) e custa 10 euros. O Chenonceau (25 minutos de Tours) revive os saraus freqüentados por Voltaire, Rousseau e Montesquieu. Site da região: http://www.loirevalleytourism.com e site de Tours: www.ligeris.com
PROVENCE - É a roça francesa. Um lugar onde nunca foi tão apurado sujar as botas no meio do campo. O ambiente rural da Provence - rodeada por vilarejos medievais, vinhos de primeira e campos de lavanda - favorece uma viagem sem pressa, de preferência com carro para sair sem rumo. Perder-se entre casinhas de pedra, estradas agrestes e feiras de queijos vai ser seu melhor programa - grátis - por aqui. Para apreciar (e fotografar!) os mais bonitos campos de lavanda vá a Abadia de Senánque, próxima à vila de Gordes, uma cidadezinha fofa ali perto. Admire e agradeça por fazer uma viagem tão luxuosa, gastando tão pouco - evidentemente optando por hospedagens modestas e comida fora do circuito turismo-pega-trouxa. O estilo provençal é justamente não ter que bater ponto em cartão postal. Mas se você não abre mão de um museuzinho corra para Aix-en-Provence, terra natal de Paul Cézanne. O ateliê do artista está à sua disposição. Site da região: www.visitprovence.com
NORMANDIA - A região é marcada e reconhecida pelo Dia D, a batalha que pôs fim a Segunda Guerra Mundial. Mas aqui encontra-se (na divisa com a Bretanha) o expressivo e improvável Mont St-Michel, uma espécie de monumento-ilha, cuja visitação depende da boa vontade da maré. A 10 quilômetros do monte está a cidadela de Pontorson (distante 3h30 de Paris por trem). Não leve muita tralha porque não existem lockers no local. A vista por fora é faustosa e gratuita. Mas já que você chegou até aqui pague os 8,50 euros para entrar. São quatro museus internos e o ticket combinado (para conhecer todos eles) sai por 18 euros. Site: www.ot-montsaintmichel.com
ESTRASBURGO - Está no nordeste da França, na região da Alsácia e tem muito da cultura alemã. O Strasbourg Pass custa11,90 euros por três dias. Dá direito à entrada gratuita em um museu (qualquer um que você escolher, mas recomendo o reputado Museu de Arte Moderna), na torre e no relógio da catedral (outra Notre-Dame), um passeio de barco (pelo Rio Reno), à diária de uma bicicleta e a descontos nas entradas de várias atrações. É um bom negócio. Site da cidade: www.ot-strasbourg.fr
NICE - Sua estréia na Riviera Francesa deve começar por Nice, a capital da região. Já aviso, é difícil passar uma temporada por aqui a 50 euros por dia. A fama da Côte d’Azur é justamente de ser cara e voltada para o turismo de massa. Mas com algum esforço (eles também têm supermercado) você pode se sentir um príncipe gastando bem menos do que a maioria. Além da praia, grátis e sempre à sua ordem, no primeiro e no terceiro domingo de cada mês os museus são gratuitos. A 113 quilômetros de Nice você desvenda Saint-Tropez, sim, aquela da Brigitte Bardot. Por incrível que pareça até hoje a cidade tem pouco mais de cinco mil habitantes, mas é lotada de hotéis chiques (que chegam a cobrar 10 euros por uma cafezinho!) e iates de modelos, atores e endinheirados de todo o mundo. Faça um bate-volta desde Nice e molhe os pés na Praia de Pampellone, a mais descolada do balneário. Site da cidade: www.nicetourism.com
PARA FUGIR DO ÓBVIO
Não ignore a região de Champagne - onde são produzidos os Moët & Chandon e Veuve Clicquot da vida. Mas se puder percorra a Rota dos Vinhos da Alsácia. A província domina a produção de vinho branco no mundo. Entre as cidades de Marlenheim a Thann são 170 quilômetros de pequenos povoados cheio de vinícolas com a plaquinha dégustation gratuite.
SEM MARCAR TOUCA
Para desfrutar do sistema Vèlib, que aluga bicicletas em Paris, (meia hora é gratuita) é necessário ter um cartão de crédito com CHIP. Toda operação é realizada em totens computadorizados, estilo self-service. Mas não aceita cartão com tarjeta magnética nem dinheiro. Caso tenha interesse em usar o Vèlib solicite com antecedência ao seu banco um cartão compatível.
Não perca: no + 15 da França outros passeios por Paris e dicas para percorrer a região vinícola de Bordeaux, Versalhes e visitar os mercados ao ar livre da Provence. E ainda: hospedagem e alimentação econômicas, momento extravagância e informações essenciais.
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Continuo sonhando!
ResponderExcluirSílvia, essa sua "série especial" dá vontade de fazer as malas e correr pro aeroporto! Estou adorando!!!!!
ResponderExcluirBeijos!
E eu, então? Tenho um siricotico a cada post publicado! hahahah!
ResponderExcluirDica: os melhores bares e cafés de Paris estão em em Montmartre na rue des Abbesses, fica no 18 arronsdissemant. Abraço! Julia
ResponderExcluirOi Silvia!
ResponderExcluirEntao, voltei pra dar as dicas do "cruzeiro" no no Rio Reno na Alemanha.
Nos fizemos a versao bate-volta, saindo de Frankfurt (trem) ao raiar do dia e indo direto pra Bingen. A cidade eh minuscula, e a estacao de trem fica bem no centrinho, e o porto a apenas alguns quarteiroes de distancia.
O passeio que nos fizemos nao foi extamente um cruzeiro, apenas pegamos um dos feries que fazem servico de passageiro pelo Rio, com servicos regulares, parando em varios portos ao longo do trajeto, e pelo que me lembro foi bem barato (coisa de 10 Euros, com direito a ir parando onde quiser).
Nao fizemos reserva nem nada (eh uma cosia meio Balsa Rio-Niteroi de luxo) jah que o servico eh bem regular.
Andamos ateh o porto e compramos a passagem (apenas de ida) com a empresa Köln-Düsseldorfer (K-D) Line.
Soh tem que ficar de olho nas datas pois os barcos nao cruzam o Reno durante o inverno, entao acho que soh ficam abertos entre Abril e Outubro (acho).
No fim do dia, jantamos em Koblenz e pegamos o trem de volta pra Frankfurt.
Foi um dia looongo, mas valeu a pena! O ideal seria passar pelo menos 1 noite em algumas das cidadezinhas na beira do Rio, mas nosso tempo era curto, entao curtimos como deu...
Espero ter ajudado! Qualquer coisa, me avisa!
Bjs
Dri Miller
Dri, fenomenal sua explicação! Muito obrigada! Bjs!
ResponderExcluirAdorei a dica para visitar o ateliê do Paul Cézanne em Aix-En-Provence!
ResponderExcluirQuanto a França, a Normandia continua sendo uma das minhas regioes favoritas :-)
Beijos, Angie