quinta-feira, 6 de março de 2008

O que fazer para evitar a deportação?

Os agentes de imigração das aduanas internacionais partem do princípio de que todos os visitantes são culpados até que se prove o contrário. Principalmente, se o turista faz parte de algum país considerado suspeito, entre eles, o Brasil. Hoje, novamente a notícia de que 30 brasileiros foram deportados da Espanha, incluindo universitários e pós-graduandos do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Estavam a caminho de um congresso científico em Lisboa, mas – de acordo com as informações dos policiais – não tinham comprovantes de estadia na capital portuguesa nem da participação no tal congresso. Também foi alegado que os brasileiros levavam uma média de 250 euros, quando se exige um mínimo de 50 euros por dia de viagem.

Quem pensa que esse post é para falar mal dos agentes espanhóis ou para dizer que fico horrorizada com o atendimento precário dado aos deportados ou, ainda, para esbravejar contra o Itamaraty que não faz nada ou que é abominável que o pessoal da alfândega não esteja preparado para distinguir um clandestino de um turista... pode tirar o cavalinho da chuva ou mudar de blog. A questão aqui é: o que fazer para evitar que isso aconteça na sua próxima viagem.

As regras variam de nação para nação, por isso, entre em contato com a embaixada ou consulado do país para saber o que é necessário para entrar sem problemas. No caso da Europa, os brasileiros não precisam de visto para entrar em qualquer um dos países europeus integrantes do espaço Schengen (território sem fronteiras internas que inclui Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Itália, Islândia, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Suécia), mas existem algumas formalidades válidas para todos os destinos e outras mais específicas que o turista deve saber.

Além do passaporte com validade superior a seis meses, o passageiro deve ter bilhete aéreo de ida e volta, com permanência máxima de 90 dias. Muitos que tentam entrar, clandestinamente, compram um bilhete de um ano – proporcionalmente mais barato – mas se esquecem de comprovar o que vão fazer lá durante os 12 meses. É volta para a casa, na certa! Alguns países exigem os vouchers de hospedagem, seguro saúde e demonstração de que possui recursos financeiros para a permanência no país durante o período desejado.

Veja: são formalidade EXIGIDAS pela Comissão Européia de Turismo. Lei! Alguns países, incluindo a Espanha, podem não pedir absolutamente nada disso na entrada para a maioria dos turistas. Para mim, por exemplo, nunca me perguntaram quanto estava levando em dinheiro. (Só passei por isso em Israel!). Então, se você não leva os valores mínimos recomendados, não tem comprovante de estadia, nem o seguro saúde obrigatório com cobertura de 30 mil euros (valor exigido para entrada na França, por exemplo) – e o policial aduaneiro pedir tudo isso – pode se preparar para voltar no mesmo avião em que embarcou.
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Parece-me que foi exatamente isso que aconteceu com este grupo de brasileiros e com a pós-graduanda em física pela Universidade de São Paulo, Patrícia Camargo Magalhães, que há um mês deveria só fazer uma conexão na Espanha. Ficou três dias presa no aeroporto de Madri. Sem um comprovante de estadia em Portugal e de sua inscrição na conferência, Patrícia foi impedida pela imigração espanhola de entrar no país. E mais: nos Estados Unidos se você for participar de um congresso tem de tirar visto específico de negócio para conseguir entrar, não servem só os comprovantes e o visto de turista.

Sim, há casos de arbitrariedade. Conheço pessoas – até uma prima – que foi com tudo certinho e acabou sendo deportada da Inglaterra. Mas isso, asseguro, é raro se você cumprir as exigências mínimas. Eu diria que, no caso dela, foi uma tremenda falta de sorte. Agora, o governo considera a possibilidade de começar a negar a entrada de espanhóis, depois desse endurecimento na liberação de brasileiros. Rá rá rá rá... Ou seja, em vez de criar condições decentes de trabalho para os brasileiros aqui no Brasil (e evitar a imigração clandestina – o que acaba gerando este preconceito) eles ainda querem afugentar os últimos turistas sobreviventes que ainda têm coragem de visitar nosso país.

O viajante profissional Ricardo Freire escreveu na sua coluna do jornal O Estado de São Paulo, na semana passada: “o turista estrangeiro que desembarca no Brasil é um herói. Ele resolveu ignorar, deliberadamente, tudo o que sai escrito sobre o Brasil na imprensa internacional. Ele assumiu como ficção tudo que viu nos últimos filmes brasileiros de sucesso. Ele desobedeceu o conselho da maioria de seus amigos. Ele resistiu ao mar transparente do Caribe e da Tailândia, ao colorido do México e às pechinchas da Argentina. (...) Para mim está claro que esse cara merece tapete vermelho, flores e fitinha do Bonfim – e não ameaça de deportação.”

Ei, Senhor Itamaraty, se liga, véio!
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Foto: Visto norte-americano. Caso vá participar de um congresso nos Estados Unidos é necessário tirar o visto de negócios. Se você for só com o de turista vai voltar para casa, mesmo que apresente todos os comprovantes como estadia e participação no evento. (Matraca´s Image Bank)

22 comentários:

  1. É mesmo, nunca tinha pensado assim. A gente sempre pensa na "teoria da reciprocidade": vamos impedir americanos ou espanhois de entrar aqui!!! Pôxa, os caras nem querem vir mesmo e a gente ainda fala não! Assim como ficamos ofendidos que eles tratem qualquer um como clandestinos a gente também não pode comparar qualquer turista estrangeiro com os brutamontes da alfândega!

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  2. Vi em um site que um dos deportados tinha mais de 1000 euros, mas que mesmo assim eles deportaram o cara.

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  3. É verdade, anônimo! Existem casos de tremenda arbitrariedade (esse pode ter sido um deles), como destaquei no texto. Pior ainda é que esses agentes não sabem distinguir entre quem é candidato a clandestino e quem é turista de verdade. No entanto, assim como nada justifica os maus tratos por parte deles (sendo clandestino ou turista) nada justifica "negar" a entrada de espanhóis que vem aqui gastar seus (muitos) euros!

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  4. Parabéns!! Importantíssimo esclarecimento... gostei...
    Aina bem que não fui vítima de arbitrariedades... aliás, nem olharam na minha cara qdo fui pra lá... rsrss
    Gostei de ler esse texto... muito bom...
    Beijos!
    Silvia Imaculada

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  5. Silvia, não conhecia seu blog, caí aqui por acaso, "surfando sobre o tema". Mas achei a discussão produtiva, só por isso, já te dou parabéns.

    Bem, discordo veentemente da sua posição e do Ricardo Freire sobre o tema. Acho que essa visão do brasileiro em ver sempre o estrangeiro como o benfeitor é totalmente equivocada. Qualquer um que trabalha com turismo no Brasil pode reconhecer o turismo predatório, exploratório e colonialista a que somos sujeitos. E isso se reflete no campo ambiental, sexual e econômico. Então é claro que é preciso rigor no turismo estrangeiro no Brasil, e nem todo turismo pode ser visto como positivo.


    Isso dito, o problema é outro, claro, a deportação de brasileiros na Europa.

    Não é verdade que basta seguir as regras (quantidade miníma de dinheiro, comprovantes de passagem e hospedagem, etc). Atualmente, acredita-se que há uma taxa diária (e arbitrária) de deportação de brasileiros. Então não há critérios? Há, claro, como sempre, critérios de aparência, domínio do idioma (mesmo que você se encaminhe para outro país, com idioma diferente do país de conexão) e a forma como fala com os fiscais.

    A adoção da reciprocidade é uma alteranativa? Não creio. Não por uma baixa-estima como brasileiro, mas realmente por isso não afetar tanto os cidadãos europeus quanto afetam os brasileiros. Bem ou mal, sabe-se que a elite (intelectual) brasileira é mais univeral e viajada do que a elite européia, então nunca seria uma deportação equivalente. Não surtiria efeito-pressão sobre governo algum.

    O que vai acabar acontecendo é um modelo semelhante ao do turismo para os EUA, com o visto prévio. Triste retrato pós-11/09. Porque, na verdade, a imigração para trabalho é o que menos se deve temer, ou você é daquelas que acha que "São Paulo seria uma cidade melhor se não tivesse tantos nordestinos"?

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  6. Anônimo, obrigada pela contribuição ao debate! Muito interessante. Concordo com quase tudo e você mesmo reforça idéias do post: existe mesmo arbitrariedade e desconhecimento por parte dos policiais de alfândega. Turismo predatório? A Espanha é o 2º país mais visitado do mundo com 60 milhões de turista ao ano... o Brasil (onde cabem 17 espanhas) recebeu no ano passado "módicos" 4 milhões! Garanto que os espanhóis ganham muito mais do que perdem com esse número de visitantes. Imigração clandestina? Vixe! Isso seria tema para um tese, tanto que trato sobre isso no meu trabalho de doutorado. Acredite, o deslocamento desenfreado de pessoas - fugindo da guerra, fome, falta de trabalho, violência ou regimes políticos opressivos - será o maior problema enfrentado pela humanidade no século XXI. A questão é infinitamente mais ampla que saber se São Paulo seria melhor sem os nordestinos. Apareça sempre, anônimo!

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  7. Silvia Imaculada! A maioria dos brasileiros é bem tratada, como você foi! Mas há os que enfrentam preconceito, e muito, como já discutimos aqui! O mesmo preconceito sofrido pelos espanhóis (agentes de viagem) que foram deportados ontem do Brasil, porque não puderam comprovar sua estadia, nem seus recursos financeiros! Francamente! Bjs!

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  8. Sílvia Adorei o seu blog!!! Muito legal o seu interesse pelo turismo. Se precisar de alguma coisa referente ao assunto é só avisar. Rachel Ouchi

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  9. Três vezes BRILHANTE, Silvia! Gosto do debate, bom ouvir opinião de todos, ampliar a discussào. Realmente, olhando por este lado... 60 milhões de turistas na Espanha devem causar mais estragos ambientais do que os 4 milhõezinhos que vem ao Brasil. Acredito que a imigração clandestina é um problema serio, que quase sempre beneficia o país receptor (com mão de obra escrava ou barata de mais!), porque os imigrantes continuam sendo os flagelados até o fim de suas vidas. Assim como São Paulo, que cresceu com a mão de obra dos nordestinos, mas estes são até hoje vítima de preconceito e muitos não saem do salário mínimo!

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  10. Sabe aquela “figura” do interior... (sem preconceito), que toda vez que ouve um comentário, tem um “causo” pra acrescentar!!! Esta sou eu!! rsrs...
    Uma vez, entrando em Madrid, na fila (dos estrangeiros), meio amassada de dormir mal e um pouquinho apreensiva (porque vamos combinar que essas filas deixam até os mais descolados um pouquinho apreensivos...rs), me atrapalhei toda e entreguei o passaporte do meu marido para o policial espanhol. Ele olhou bem pra foto e pra mim e eu fiquei sem entender a cara dele. Ele acenou pro meu marido que estava bem do ladinho, esperando sua vez, mas próximo suficiente pra demonstrar que estava comigo. Pediu o passaporte dele e claro meu marido portava o MEU passaporte.
    Sorriu, desejou “boas vindas”, depois de entregar carimbado cada passaporte para o seu respectivo dono. Mas até hoje tenho certeza, que ele deve ter pensado: ¡Que pareja más rara!
    Já em São Paulo, na fila (dessa vez na dos cidadãos brasileiros), bem amassada de dormir mal, entrei claro, sem problemas. Mas alguns passos depois fui brecada. É minha gente!!Fui brecada na minha terrinha. Mas faz parte do pacote. O motivo?? Eu trazia um tapete!!! Parece pouca coisa??? E era!!! Apresentei NF e depois do perrengue de ser separada dos demais, abre mala, mostra tudo, explica porque um casal pode precisar de um tapete (para pelos menos dois agentes), ficar por último de todos e fecha mala. Tudo liberado, sem sorrisos e sem desejos de boas vindas. Mas liberado! Como manda a lei.
    Acontece cada coisa nesses aeroportos, rsrsrs... Mas enfim galerinha, lugarzinho gostoso é esse tal de aeroporto, né?? Você vai buscar alguém, vai levar alguém, você vai ou você tá voltando.... ai-ai!!! Pra mim o segredo é manter o humor, a lembrança de que infelizmente ainda é pra poucos e cumprir as normas.
    Silvinha, parabéns pela iniciativa de oferecer informações de como evitar a deportação. Afinal conhecendo as leis e normas a gente se dá bem em qualquer lugar e situação, né mesmo?? E na minha opinião Lei é Lei. A gente precisa exercitar nas mínimas coisas e daí aprende a cumprir os deveres e exigir os direitos. Aqui ou acolá.
    Bom final de semana.
    Nair

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  11. Nair! A gente não sabe se chora ou ri com seus "causos". Hahahaha! Ai, essa da fila no Brasil... Como pode? Já vi brasileiros chegando com malas e malas e passar diretinho pela alfândega nacional, enquanto que aquele pobre mortal - como nós - é obrigado a abrir a bagagem... ainda mais a bagagem de volta, que de tão bagunçada só faz a gente passar mais vergonha! hahahaha!

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  12. Aê, Murica: mandou bem! Tudo deve ser combatido: imigração clandestina, turismo predatório (seja onde for!), reciprocidade sem pé nem cabeça. A questão é bem complexa, nem caberia num bloguezinho deste. Mas se pudesse resumir em uma só frase, diria: o Brasil vai ser a bola da vez quando deixar de se sentir vítima do "império", quando aprender a crescer com seus atributos e souber tratar bem seus próprios filhos!

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  13. ¡Hola, Raquel! ¿Qué tal? Bienvenida a nuestro Matraqueando. :-)

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  14. Bem legal todos os pontos de vista. Parabéns, Silvinha, por tirar uma venda dos olhos de muitos dos brasileiros que vêm na "lei da reciprocidade" a vingancinha mais adequada. Que o Itamaraty trate de evitar o tráfico de mulheres brasileiras, que trate de oferecer trabalho (e salário) decente para os brasileiros para que não tenham que imigrar, que trate de limpar a nossa (péssima) imagem no exterior criando políticas públicas que ao menos amplie a discussão do tema, como exatamente você fez! Obrigada!
    Malu Bueno

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  15. Olá, fazendo uma pesquisa na WEB encontrei o seu blog.
    Muito legal e acho que é de utilidade pública esse seu post, que nos mostra, o que é preciso para não ser barrado na Europa. O outro ponto de vista então, sem comentários. Nota 10 pra você, parabéns!

    Marcos
    Belo Horizonte-MG

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  16. Malu, como você deve estar acompanhando pelo noticiário, a história ainda vai dar muito pano para manga!

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  17. É isso, Marcos! Cada um dá sua opinião, sem medo de ser feliz! (hohohoho) Dizem que isso é "democracia"! Apareça mais vezes!

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  18. Oi Silvia
    Gostei muito dos seus comentários sobre o tema. Estou buscando sobre o assunto pq é algo que me afeta diretamente, por isso estou buscando me informar mais e, nesse caso, se puder me dar umas dicas:)
    Tenho 22 anos e ano passado estive estudando de intercambio em uma faculdade espanhola durante 6 meses. Ali pude sentir como "enxergam" as brasileiras mulheres, e pelo menos não sofri nenhum tipo de preconceito, mas a quantidade de brasileiras e outras latino-americanas que vão a países europeus para se prostituir é inegável. E fiquei bastante triste por saber desta "fama" que temos ali, pois passei meses incríveis, fiz amigos e conheci muitos lugares. Creio que tudo é bastante complexo, pois no final nós mesmos "criamos" este problema de deportação. Muitos imigrantes saem daqui buscando melhores condições de vida, alguns conseguem entrar no país, a Espanha quer combater este tipo de imigração, assim como a prostituição... e dai são cometidas injustiças com as pessoas que querem entrar apenas por turismo ou para visitar amigos. Ao mesmo tempo, é evidente a carência de mão de obra em determinados setores. Quando estive ali, procurei emprego como garçonete em uma cafeteria, parte pq pretendia "esticar" meu intercâmbio (o que afinal não aconteceu) e parte por curiosidade. Consegui no primeiro local que busquei, ia receber em torno de 760 euros por mês, e o propietário da cafeteria ainda ia me ajudar com os vistos de trabalho e residencia, pois não queria que fosse ilegal ou poderia trazer problemas para ele também. Mas no final voltei para o Brasil.
    Em relação ao meu caso pessoal, gostaria de algumas dicas pois ja tenho passagem de ida e volta comprada para Julho. Estou indo visitar amigos (amigos espanhóis), vou ficar durante 35 dias e pretendo ficar na casa de um desses amigos, por isso tenho a "carta-convite" que pedem como documentação. Mas vi em muitos locais que o fato de ter "amigos" pode ser mal sinal para os agentes da imigração, mas como não tenho como principal "motivação" fazer turismo, não pretendo fazer reservas em hotéis.
    Tb, o fato de ja ter tido um visto e ter voltado para o meu país, pode ser útil para ter mais confiabilidade?
    Obrigada pela oportunidade de "debate"...

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  19. Oi Elis!!!

    Atrasadíssima, estou aqui: não existe uma resposta técnica para sua dúvida. Como você viu, os critérios dos oficiais da alfândega são subjetivos, mas acho que você está certa em buscar todos os mecanismos que a própria lei pede. Mas nada garante a entrada de ninguém! Se você já embarcou espero que tenha tido muuito sucesso! Um abraço!

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