Os agentes de imigração das aduanas internacionais partem do princípio de que todos os visitantes são culpados até que se prove o contrário. Principalmente, se o turista faz parte de algum país considerado suspeito, entre eles, o Brasil. Hoje, novamente a notícia de que 30 brasileiros foram deportados da Espanha, incluindo universitários e pós-graduandos do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Estavam a caminho de um congresso científico em Lisboa, mas – de acordo com as informações dos policiais – não tinham comprovantes de estadia na capital portuguesa nem da participação no tal congresso. Também foi alegado que os brasileiros levavam uma média de 250 euros, quando se exige um mínimo de 50 euros por dia de viagem.
Quem pensa que esse post é para falar mal dos agentes espanhóis ou para dizer que fico horrorizada com o atendimento precário dado aos deportados ou, ainda, para esbravejar contra o Itamaraty que não faz nada ou que é abominável que o pessoal da alfândega não esteja preparado para distinguir um clandestino de um turista... pode tirar o cavalinho da chuva ou mudar de blog. A questão aqui é: o que fazer para evitar que isso aconteça na sua próxima viagem.
As regras variam de nação para nação, por isso, entre em contato com a embaixada ou consulado do país para saber o que é necessário para entrar sem problemas. No caso da Europa, os brasileiros não precisam de visto para entrar em qualquer um dos países europeus integrantes do espaço Schengen (território sem fronteiras internas que inclui Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Itália, Islândia, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Suécia), mas existem algumas formalidades válidas para todos os destinos e outras mais específicas que o turista deve saber.
Além do passaporte com validade superior a seis meses, o passageiro deve ter bilhete aéreo de ida e volta, com permanência máxima de 90 dias. Muitos que tentam entrar, clandestinamente, compram um bilhete de um ano – proporcionalmente mais barato – mas se esquecem de comprovar o que vão fazer lá durante os 12 meses. É volta para a casa, na certa! Alguns países exigem os vouchers de hospedagem, seguro saúde e demonstração de que possui recursos financeiros para a permanência no país durante o período desejado.
Veja: são formalidade EXIGIDAS pela Comissão Européia de Turismo. Lei! Alguns países, incluindo a Espanha, podem não pedir absolutamente nada disso na entrada para a maioria dos turistas. Para mim, por exemplo, nunca me perguntaram quanto estava levando em dinheiro. (Só passei por isso em Israel!). Então, se você não leva os valores mínimos recomendados, não tem comprovante de estadia, nem o seguro saúde obrigatório com cobertura de 30 mil euros (valor exigido para entrada na França, por exemplo) – e o policial aduaneiro pedir tudo isso – pode se preparar para voltar no mesmo avião em que embarcou.
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Parece-me que foi exatamente isso que aconteceu com este grupo de brasileiros e com a pós-graduanda em física pela Universidade de São Paulo, Patrícia Camargo Magalhães, que há um mês deveria só fazer uma conexão na Espanha. Ficou três dias presa no aeroporto de Madri. Sem um comprovante de estadia em Portugal e de sua inscrição na conferência, Patrícia foi impedida pela imigração espanhola de entrar no país. E mais: nos Estados Unidos se você for participar de um congresso tem de tirar visto específico de negócio para conseguir entrar, não servem só os comprovantes e o visto de turista.
Sim, há casos de arbitrariedade. Conheço pessoas – até uma prima – que foi com tudo certinho e acabou sendo deportada da Inglaterra. Mas isso, asseguro, é raro se você cumprir as exigências mínimas. Eu diria que, no caso dela, foi uma tremenda falta de sorte. Agora, o governo considera a possibilidade de começar a negar a entrada de espanhóis, depois desse endurecimento na liberação de brasileiros. Rá rá rá rá... Ou seja, em vez de criar condições decentes de trabalho para os brasileiros aqui no Brasil (e evitar a imigração clandestina – o que acaba gerando este preconceito) eles ainda querem afugentar os últimos turistas sobreviventes que ainda têm coragem de visitar nosso país.
O viajante profissional Ricardo Freire escreveu na sua coluna do jornal O Estado de São Paulo, na semana passada: “o turista estrangeiro que desembarca no Brasil é um herói. Ele resolveu ignorar, deliberadamente, tudo o que sai escrito sobre o Brasil na imprensa internacional. Ele assumiu como ficção tudo que viu nos últimos filmes brasileiros de sucesso. Ele desobedeceu o conselho da maioria de seus amigos. Ele resistiu ao mar transparente do Caribe e da Tailândia, ao colorido do México e às pechinchas da Argentina. (...) Para mim está claro que esse cara merece tapete vermelho, flores e fitinha do Bonfim – e não ameaça de deportação.”
Ei, Senhor Itamaraty, se liga, véio!
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Foto: Visto norte-americano. Caso vá participar de um congresso nos Estados Unidos é necessário tirar o visto de negócios. Se você for só com o de turista vai voltar para casa, mesmo que apresente todos os comprovantes como estadia e participação no evento. (Matraca´s Image Bank)