A revolta dos óculos

Todos os meus óculos resolveram se rebelar ao mesmo tempo. A guerra do contestado começou no Brasil. Lembra do meu vermelhinho, amado, companheiro de todas as horas? (O fofo até andou matraqueando aqui e aqui). Pois ele se foi. Dois dias antes da minha viagem, num acidente horrível (escapou da minha mão!) ele quebrou uma perna. Sem conserto. Óóóóó dor infinita! Bom, mas como diz minha amiga Suzana Vieira, não tenho vocação para a tristeza. Ainda mais que não foi nenhuma traição, mas uma fatalidade do destino. Estava escrito.
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Ressurgi das cinzas e passei a usar o nº 2, o pretinho de aros grossos. Estiloso também, mas não tão amado (chuif) como o oficial (snif). Vim para a Europa. Aí, a revolução foi francesa. Apenas desci em Paris (era só para falar que na ida para Sevilha fiz um stop em Paris! Uhu!) montei no ônibus (não era um ônibus qualquer, claro. Era um ônibus francês.) e os óculos de-sa-pa-re-ce-ram! Sumiram, escafederam-se!

Eu estava usando os de sol – que também têm grau. E o pretinho, só Deus sabe onde coloquei. Bom, como não contavam com minhas astúcias, tirei as lentes de contato da bolsa e fui p´alante, como se diz aqui na Espanha. Chegando a Sevilha tive de comprar outros anteojos, porque não me adapto nunca, jamais com a lentes. Eis que encontro um vermelhinho, parecido, quase gêmeo com o meu antigo. Agora estou aqui, mais insuportável que nunca, contando para todo mundo que ah, sabe, perdi meus óculos em Paris e acabei comprando outro em Sevilha. Insuportável.

Fotos: bem desfocadinhas dos novos óculos sevilhanos, já em ação. (Matraca´s Image Bank)