quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Reforma ortográfica: que viagem!

Eu ainda nem aprendi a usar direito as regras do hífen e elas já vão mudar. A tal Reforma Ortográfica, prevista para entrar em vigor em janeiro de 2008 quer (além de me embananar ainda mais com a utilização daquele traço-de-união) a abolição definitiva do trema e de acentos em algumas palavras como vôo e baiúca. A última reforma no Brasil ocorreu em 1971. Naquela época tolheram o emprego do trema nos hiatos átonos: nossos avós escreviam saüdar, com esses pinguinhos em cima da letra u. Um luxo!

As novas mudanças foram discutidas entre os oito países que usam a língua portuguesa – mais de 230 milhões de pessoas. O objetivo é aquela balela de aproximar as culturas. (Não adianta, os portugueses não vão incluir a feijoada no cardápio de sábado, nem eu vou passar a escutar ó bate o pé, bate o pé, bate o pé no toca CD do carro.)

A pergunta que não quer calar: porque no lugar de acabar com o trema (que nunca fez mal a ninguém) não resolvem de um vez por todas essa confusão que a gente faz com o “ç”, “ss” e “xc”??? Fale, qual é a diferença entre pensão e penção? Excelente ou eçelente?

E o portuglish? Experimente fazer uma viagem, qualquer uma que envolva um vôo (escrito assim, com chapeuzinho, porque ainda leva acento) e um hotel. Você terá de fazer, de cara, um check-in no aeroporto. Quando chegar ao destino, prepare-se para o city tour. Se for pela CVC, a operadora sempre inclui um by nigth, uma festa ou passeio noturnos como cortesia.

Ah, mas se você for daqueles chique no úrtimo, poderá desembarcar em qualquer resort all-inclusive, um sistema que inclui no valor da diária todas as comidas e bebidas consumidas durante a estada. Ou então dá para optar por um fly and drive, um pacote que dá direito a uma locação de carro no destino, pagando só a passagem aérea.
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Poderia ser bem mais fácil. Por exemplo, a gente diz que deu overbooking quando a companhia aérea vende mais bilhetes do que assentos. Mas isso, poderia ser chamado simplesmente de estelionato. Quando você for reservar um apartamento standard, não se engane, vai ser o quarto mais simples e barato do hotel.

É a eterna americanização das palavras – que nunca, nunquinha esse país se preocupou em deter. Não, nos casos acima isso não acontece porque se trata de turismo ou de internacionalização de termos. Em Portugal, check-in ainda é “conferência de chegada” e vôo non-stop é simplesmente “vôo direto”, sem escalas no trajeto.

Sei não, mas acho que os caras que se preocupam demais em fazer essas reformas deviam mesmo é buscar um upgrade e fazer um transfer para bem longe. Check-out neles!
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Foto: Praça da República, São Paulo. (Raul Mattar)

11 comentários:

  1. Malu Bueno - Flórida31 de agosto de 2007 às 05:25

    Deviam acabar tambem com aquela confusão do "por que" separado, do "porque" junto, do "porquê" junto com acento... quem entende isso?

    Malu

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  2. Ai, nem me fale. E e o uso das vírgulas, então???? Quem conhece um mínimo de português, ao ler qualquer texto meu, já vai se dar conta que não manjo nada do tema. Não manjo e me recuso a manjar.

    Uso o macetinho da professora Conceição: quando estiver lendo e tiver de respirar, coloque vírgula!

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  3. whahahaha, essa da vírgula foi boa!
    Eu acho que a gente devia abolir o "s" e os "ss". Devia tudo ser escrito com cedilha... A letrinha é mais simpática e são poucos os idiomas que tem "ç". Nem o espanhol tem... Ficaria tudo assim, sem perigo de errar:
    Por favor, paçem mais tarde para çaber sobre o paçeio na çerra do mar. Çerá um prazer reçebê-lo.

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  4. Puxa, que idéia boa: meu nome ficaria Çilvia! Que lindo! E como eu não daria fim no trema, ficaria mais lindo ainda: Çilviä.

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  5. Meu problema mesmo é a tal da "colocação pronominal", aquilo de ênclise, mesóclise, etc.. Até os nomes são assustadores. Porque existe "pagar-se-á" se ninguém fala assim????

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  6. Ah, apóio a campanha do cedilha. meu nome seria: ÇIRLËNE, com trema claro!

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  7. Quando eu leio algo assim como "pagar-se-á" "queixar-me-ia", "dir-lhe-ei"... o meu cérebro simplesmente não consegue processar o texto, pensa que está lendo em curdo!

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  8. e a maldita crase? Uf!

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  9. fernanda freitas braga3 de setembro de 2007 às 07:36

    Bom, nisso (ou isso) eu não tenho muito que falar, pois eu não sei escrever mesmo.
    Mas estas (ou serão essas) dicas que vcs colocaram eu adorei todas.

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  10. Fernanda, não se avexe: eu sou uma profisisonal das "letras" e meu livro de cabeceira é uma gramática portuguesa.

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  11. Gisela, podemos começar uma campanha: NÃO A CRASE!
    assim, sem crase no "a"!

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