Prosa, poesia, romance, novela. De Carlos Drummond a Guimarães Rosa. De Gregório de Mattos a Arnaldo Antunes. Um museu sem obras ou esculturas. Um museu de palavras. As que formam o nosso idioma, o brasileiro. Um empório semântico. Uma espécie de secos e molhados da língua portuguesa. Assim, à vontade, feito para quem sabe ler e para quem só sabe falar. Ou ainda para quem prefere só escutar. Dedicado a um idioma formoso e gentil (só nós temos a palavra saudade), mas às vezes confuso e desvairado (alguém já ouviu ou disse dar-se-ia?). Fiquei embasbacada, sem nenhuma palavra.
No entanto, entretanto, contudo. Porém.
Lengalenga. Beleléu. Encafifar. Maracutaia.
Em seguida, mais 20 minutos dentro de um anfiteatro que parece um planetário de palavras. Muitas projetadas no teto, nas paredes, no chão. Aparecem textos e frases de Euclides da Cunha, Vinícius de Moraes, Machado de Assis, Noel Rosa e até do conterrâneo Fernando Pessoa. Tudo embalado por música e sons. No princípio, o mantra “penetra surdamente no reino das palavras” é entoado umas 30 vezes na voz de Arnaldo Antunes. Fica-se quase em transe. São muitas expressões, termos e vocábulos luminosos e únicos, originados de uma mescla sofisticada dos falares africano e indígena.
Fleuma. Flama. Luz. Força. Garça. Morsa.
O museu fica dentro da Estação da Luz. No segundo andar, você realmente se sente em uma estação de trem. Um telão de 106 metros de comprimento atravessa o edifício histórico de ponta a ponta. São projetados diversos filmes que demonstram, através do cotidiano, a importância da linguagem. Sem ela – escrita ou falada – como seria o nosso carnaval? A música? A culinária? O futebol? O meio? A mensagem? O jornalzinho de bairro? A receita médica? A bula do remédio? O cinema? A internet? Este blog?
Inducação. Hómi. Meis. Véio. Mais pió. Mió de bão.
A parte de que mais gostei: estas palavrinhas existem e são consideradas CORRETAS – dependendo do lugar em que você está ou com quem você está falando. Um painel interativo explica a diferença entre o Português Brasileiro Popular e o Culto. Segundo os especialistas do museu, quem fala o português popular não fala de forma errada, apenas de acordo com o meio social em que vive. “Falar errado é não se fazer entender em seu meio ou usar uma variedade inadequada para o ambiente em que o falante se encontra”, explica o professor Ataliba de Castilho num dos vídeos à disposição do visitante. Ou seja, se você liga para alguém na roça falando “estaremos chegando amanhã de automóvel”, o caipira é você!
Serviço:
Local: Estação da Luz. Praça da Luz, nº 01 – São Paulo
Horário: 10h às 18h (última entrada permitida às 17h). De Terça a Domingo.
Ingresso: R$ 4,00 – Estudante paga meia. Menores de 10 anos e professores da rede pública não pagam.
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Simplesmente, MARAVILHOSO!
ResponderExcluirSilvia,
ResponderExcluirEsse teu blog, (que nós todos acabamos nos sentindo meio donos também...rsrsrs..) é um verdadeiro "artigo de luxo", no melhor sentido literal. Fantástico ler sobre o Museu da Lingua Portuguesa e de certa forma se sentir lá dentro. Muito bom, parabéns, teu texto tem essa habilidade e leveza. A de transportar a gente pra dentro desses passeios extraordinários.
Pois é, sou paulista na verdade, mas fui pra capital bem cedinho, estudei, me formei, me fiz adulta por lá. Que bom que gostou.
Silvinha, parabéns de novo, continue essa profissional tão empenhada e jovem tão determinada. Feliz 2007, para você e sua familia, que Deus permita muitas bençãos.
Saio de férias coletivas essa semana e volto ano que vem.
Meu destino????? rsrsrs... São Paulo e depois Ribeirão Preto. (nada muito sério...rsrs... visitando os familiares!!!).
Beijão, se cuida. E vou aguardar os próximos textos.
Nair
Intão vem mais eu pá modi di nóis proseá! hihihi
ResponderExcluir(Um luxo, tem razão, Nair!)
Veja só: nossa enviada especial Nair P. Siqueira indo para Sampa!Se tiver dica de restaurante de charme por lá, por favor, coloque aqui. Beijos!.
ResponderExcluirMinha gente!!! rsrsrs... Infelizmente não tenho frequentado muitos restaurantes charmosos em Sampa não. Já viu né??? Casa dos parentes, familia.... a gente acaba ficando em casa. Mas só para deixar a dica, quando estou com os amigos e vamos dar uma escapada, o destino certo ainda é a VILA MADALENA. Sempre dá certo. Charme, boa comida, gente descolada, enfim... Talvez não seja mais tão de modá, mas eu ainda curto.
ResponderExcluirBjs
VILA MADALENA??? Com certeeeeza, Nair! Não fui lá, ainda. Não conheço o bairro. Fiquei doída, porque não ia caber no meu roteirinho de três dias. Mas na minha próxima bat-viagem a São Paulo.... não me escapa!
ResponderExcluirBeijos