quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Varig, Varig, Varig... - Parte II

Tenho milhas suficientes para emitir dois bilhetes para qualquer destino na América do Sul. Escolhi chegar pelo Peru e voltar pelo Chile, matando com a mesma cajadada a Bolívia, que está no meio. Mas a Varig não voa mais para o Peru e nem desce mais no Chile. Tive um siricotico. Os vôos para estes destinos estão suspensos. A empresa só está operando Buenos Aires (para onde vou mês que vem pela GOL) e Caracas (onde estive há 4 anos pela própria Varig). Uma pindaíba sem tamanho. O rapaz do atendimento smiles me disse que na primeira semana de setembro vão ser decididas todas as rotas internacionais da companhia. Escutei a pataquada e tive outro faniquito. Em setembro vence parte das minhas milhas, portanto eu teria que emitir as passagens ANTES do dia 01/09! “Compreendo Sra. Silvia, mas no momento estamos trabalhando desta forma.”, retruca o mancebo com o texto aborrecidamente ensaiado. Eu, com minha ranhetice costumeira, disse apenas “ok, obrigada!” e me recolhi ao meu diminuto vulto de mais um passageiro lesado por aquela que foi a maior companhia área deste país. Incrivelmente, ainda assim, torço pela Varig. Acho que tenho bom coração. A bem da verdade, o certo é que agora ando mais amiga da GOL – Linhas Aéreas Inteligentes que, coincidência ou não, passa a operar 14 vôos regulares por semana para Lima, a capital peruana.


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terça-feira, 29 de agosto de 2006

LAPA: o cerco histórico do Paraná

Como bem disseram alguns dos matraqueadores, o Theatro (assim, com agá) São João - do Quiz: onde está este teatro? - fica na Lapa, cidade histórica a 66 quilômetros de Curitiba, no meu Paraná. Durante o Cerco da Lapa o teatro virou uma enfermaria improvisada e foi bastante atingido pelas balas de canhões das tropas que invadiam o lugar. Mesmo associada à Rota dos Tropeiros, a Lapa ganhou fama - de verdade - depois do tal bloqueio republicano.

Pausa para o momento Barsa do Matraqueando: a zica começou após a Proclamação da República, quando os federalistas queriam libertar o Rio Grande do Sul da “tirania” de Julio Prates de Castilhos, eleito presidente (como então eram chamados os governadores) do estado gaúcho. O Partido Federalista era liderado por Gaspar Silveira Martins, um tucano de carteirinha já naquela época - 1892. Primeiro Martins era contra a monarquia, depois a favor e depois - muito pelo contrário. Mas foi o caudilho federalista Gumercindo Saraiva que se embrenhou numa luta sangrenta contra os republicanos, uma guerra civil que durou dois anos e meio. Saíram do Rio Grande do Sul e foram subindo, subindo, subindo. Passaram por Santa Catarina e chegaram ao Paraná, precisamente à Lapa. Aqui foram detidos pela obstinada resistência do General Gomes Carneiro (com muito respeito, a nossa Heloísa Helena de farda) num episódio que frustrou a tentativa da tropa federalista de chegar à capital da República, o Rio de Janeiro.

O General Carneiro – entre outros - morreu lutando, o que deixa a história (e o lugar) mais intrigante ainda. Nunca vou saber se a cidade me atrai tanto porque moro aqui perto ou porque resgata em cinco quarteirões e em uma dúzia de casas tombadas pelo patrimônio nacional esse impressionante capítulo de bravura da história do Brasil. Fico aqui imaginando se a Revolta da Chibata, a Guerra do Contestado, a Revolução de 1930 ou a Intentona Comunista (outros momentos de audácia e valentia da biografia brasileira) atrairiam tanto um turista, como a simplória Lapa.

Foto: Heróis da Lapa - Arquivo do Exército Brasileiro

LAPA por um dia e para toda a vida

Como 98% de uma visita à Lapa estão intimamente ligados a conhecer - antes - um pouco da história da cidade acredito que o post acima resolve boa parte do nosso problema. Caso você não tenha conseguido ler o artigo anterior até o final (até porque história e geografia são consideradas matérias problemáticas para muita gente) vale a pena conhecer a Lapa por outros motivos também:

- possui o maior conjunto arquitetônico preservado do Paraná com 14 quadras e 258 construções tombadas pelo patrimônio histórico. Deixe o carro e faça um passeio a pé pelo centrinho, com casario recuperado e preservado;
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- foi morada de um monge conhecido como João Maria D’Agostinis, ermitão que vivia na chamada Gruta do Monge. A gruta está localizada em um parque estadual e é centro de peregrinação religiosa. Há vários depoimentos de graças alcançadas e de visões da Virgem Maria. Dizem que só os puros de coração conseguem ver a santa. Eu (glupt!) não vi nada;

- tem o Theatro São João, realmente estupendo. Outro muito parecido conheci em uma cidade chamada Areia, na Paraíba. Mas há um teatro do mesmo estilo elisabetano em Sabará, Minas Gerais. Portanto, este é único por essas bandas;

- é possível conhecer a Casa Lacerda, onde foi assinado o ato de rendição, em 1894. Hoje, convertida em museu, retrata como vivia uma família de classe média na época;
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- preserva o Panteón dos Héroes (escrito desta forma, quase tudo em espanhol, porque faz uma referência ao portuñol dos combatentes do Cerco da Lapa. Total influência daquele perrengue do Tratado de Tordesilhas que – lá nos primórdios - cedia boa parte do sul do país aos espanhóis). Aqui estão os restos mortais do General Gomes Carneiro e de seus bravos companheiros. Os canhões que adornam o monumento são originais, abandonados pelas tropas federalistas durante o recuo para o sul;
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- Santuário de São Benedito e Igreja de Santo Antônio. Esta última é a edificação mais antiga da cidade e o primeiro, mais moderno, guarda uma imagem de São Benedito da antiga capela erguida por escravos em 1870;
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- é a oportunidade para aproveitar a deliciosa culinária lapeana: costela de porco frita, feijão tropeiro e quirera feita com milho quebrado, cozido e socado no pilão. Nos (poucos) restaurantes da cidade.

O slogan “sou brasileiro e não desisto nunca” bem que poderia ter nascido aqui. O Cerco da Lapa (olha eu de novo falando dele) é o retrato de um pequeno grupo (pouco mais de 600 homens) que enfrentou os mais de 3 mil rebeldes que queriam manter a coroa portuguesa no país. (Há muitas teorias sobre as motivações dos federalistas. Eu acredito nessa.) Resistiram durante 26 dias, muitos – inclusive os principais líderes – morreram em combate porque acreditavam na República e queriam ver o Brasil nas mãos dos brasileiros.

SERVIÇO

COMO CHEGAR
Saindo de Curitiba pela BR 476, indo por Araucária. Está a 66 quilômetros da capital paranaense.

INFORMAÇÕES TURÍSTICAS
Central de Informações Turísticas
Praça General Carneiro, 116 - Centro
Tel. 41 3622-7401
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Fotos: Raul Mattar
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segunda-feira, 14 de agosto de 2006

QUIZ: onde está este teatro?

Este lindo teatro foi construído na segunda metade do século 19 com blocos de arenito retirados das rochas da região pelas mãos de trabalhadores escravos. Tem estilo elisabetano, mas o palco é italiano.

Em 1880, um dos camarotes foi ocupado pelo Imperador Dom Pedro II e sua comitiva. Com capacidade para pouco mais de 200 pessoas, algumas das cadeiras já não são mais originais. Mas todas - inclusive as réplicas - estão tombadas pelo patrimônio nacional.

Está localizado em uma cidade histórica, às margens da Estrada da Mata, que era um trecho do mítico Caminho Viamão-Sorocaba. Durante um dos conflitos da Revolução Federalista serviu como hospital das tropas que defendiam o lugar.

Fotos: Raul Mattar

QUIZ MATRAQUEANDO:

1. Qual o nome do teatro?

2. Em que cidade e estado está localizado?

3. Que nome recebeu o conflito que marcou a resistência dessa cidade ao ataque de rebeldes em 1894?

Resposta no próximo post. Entre para matraquear também!

Outros QUIZ:

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QUIZ: onde fica esta igreja?

QUIZ MATRAQUEANDO

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segunda-feira, 7 de agosto de 2006

MARROCOS a 45 minutos


O Marrocos geralmente está naquela lista de países exóticos que a gente só vai depois de ter conhecido o básico da Europa ou dos Estados Unidos. Pois eu ainda não conheço Amsterdã nem Miami, mas já garanti o Marrocos. É que - entre um país europeu e um país árabe - uma pessoa normal provavelmente escolheria o velho mundo. Mas o meu sistema operacional interno nem sempre me deixa escolher o básico ou o óbvio. Sei lá, deve ser um problema na instalação do meu software turístico interno que insiste em dar pau no momento em que dou enter nas minhas decisões sobre para onde vou ou deixo de ir.

O Marrocos nem é tão exótico assim. Mas é bem menos visitado que Miami, com certeza. Já tinha lido muito sobre o país, visto fotos daquelas mesquitas deslumbrantes, sonhado com Casablanca e cantado bastante “você está para lá de Marrakéééésh”. Maktub. Estava no sul da Espanha. A menos de 200 quilômetros da fronteira marroquina. Não deu outra. Peguei um ônibus de Sevilha até Tarifa, um balneário da costa da luz espanhola. De lá um ferry rápido até Tanger, do outro lado do Estreito de Gibraltar. São 14 quilômetros que separam a Europa da África, a Espanha do Marrocos. 45 minutos de travessia e outro mundo a sua disposição com todos os cheiros e sabores que o universo árabe pode oferecer.

Está certo que Tanger não é Fez, Marrakesh ou Casablanca, mas é Marrocos. Para mim, mais do que suficiente. Até porque não sou muito exigente. Ué, tem gente que vai a Puerto Iguazu e diz que conheceu a Argentina! Pois então? Tanger é uma cidade portuária, aliás o maior porto pesqueiro do Marrocos. É na cidade que fica o Cabo Espartel, onde o Atlântico se encontra com o Mediterrâneo. Não é a mais famosa do país, mas uma das mais importantes. Histórica e comercialmente. Com sabem, adoro quando chego a um lugar e confirmo todas as minhas expectativas: tudo escrito com aquela linda caligrafia árabe-carnavalesca, homens de vestidão, mulheres com lenços na cabeça (tem um nome para isso, mas agora não me lembro), e um monte de vendedor ambulante gritando e perseguindo os turistas na Medina, o centrinho louco de Tanger formado por mais de 3500 ruazinhas e bequinhos. Tirei tantas fotos, mas tantas, que só não publico várias delas aqui porque o Matraqueando vai acabar sendo acusado - indevidamente - de fotolog.


Aqui é possível tomar a sopa típica marroquina, a Hariri, por 0,80 céntimos. Exato. Oitenta centavos de euros! É a nossa sopa de macarrão com carne que, no caso deles, leva muita páprica. Acompanha pão e azeitonas. Tomei chá de menta e fiz compras (!!!), o que para mim é sempre uma novidade. Trouxe uns copinhos verdes, bem típicos, para mais tarde me dar conta de que no fundo dos cristais estava escrito “Korea”. Mas não importa: para a minha placa-mãe cerebral o considerável é que comprei no Marrocos! Maktub.

Fotos: Matraca´s Image Bank

Marrocos combina com:

ESPANHA

sábado, 5 de agosto de 2006

FLORIPA: para os manés de todas as ilhas

Florianópolis é a Daslu do turismo nacional. A ilha se tornou rota obrigatória dos endinheirados. Virou marca. Mas assim como a Daslu tem umas regatinhas de algodão para oferecer às garimpeiras da loja, Floripa tem pousadas acessíveis e até camping, para nós – com muito orgulho - farofeiros do turismo. Um camping, por exemplo, em JURERÊ INTERNACIONAL, a praia das dasluzetes. Por deizão a diária!

Quem nasce em Florianópolis – todo mundo sabe – é conhecido como “Mané”, o Manezinho da Ilha. Vem do tupi “manema”, que significa farinha grossa, o “que come farinha” ou “pessoa ingênua”. Mas mané mesmo sou eu que demorei muito para aceitar Floripa como o destino da hora.
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Não saberia descrever muito bem as praias, nem conseguiria memorizar o nome de todas. Porque são muitas e para todos os gostos: calma, agitada, morna, fria, com onda, sem onda, areia clara, areia escura, lotada, deserta. Também não poderia enumerar todos os restaurantes que oferecem ostras pela bagatela de R$ 8,00 a dúzia. A cidade é a maior produtora nacional dessa gosminha que - dizem - é comida de gente rica. Ou seja, essa estatística não poderia estar em outro lugar. (Admito: COMI OSTRA! Afinal, viajar é para isso mesmo: por algumas horas você vira patrão. Só passeia, vive pulando de restaurante em restaurante e todo dia tem alguém para arrumar o seu quarto.)

Seria difícil também eleger o norte ou o sul da ilha como preferido. São diferentes, com públicos distintos e paisagens alternativas. A cidade tem dado certo por isso mesmo. Consegue reunir num pedacinho de terra (é menor que Londrina!) praias com azul caribenho, casario colonial para Ouro Preto nenhuma botar defeito, qualidade de vida, segurança e, de quebra, tem uma das melhores universidades do país. Santa Catarina, definitivamente, deu sorte!

Fotos: Raul Mattar

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Costão do Santinho

terça-feira, 1 de agosto de 2006

SANTA CATARINA: para entender Floripa

Fez um sol danado e um frio de rachar o cano. A massa de ar POLAR vinda da Argentina acertou em cheio Florianópolis no fim de semana. A cidade estava glacial (sou hiperbólica mesmo - quando se trata de frio, friagem, geada, nevasca ou granizo. Por isso, aviso aos matraqueadores: é provável que nunca encontrem aqui um post sobre esqui, snowboard, Chillán, Bariloche ou Serra Nevada), mas o céu azulíssimo me mostrou uma cidade calma e despreocupada. A baixa temporada e os 8º graus de sábado à noite me fizeram descobrir que existe vida depois de Jurerê Internacional. Para que se possa entender a atual Florianópolis hippie-chic, no entanto, tenho que ilustrar – primeiro - o estado de Santa Catarina. É um dos menores do país e consegue ter, surpreendentemente, tudo isso:


- 560 quilômetros de praias, incluindo algumas das mais bonitas do Brasil;

- Baleias-francas, que visitam o mar de Garopaba e da Praia do Rosa;

- Oktoberfest, a maior festa da cerveja do país e segunda do mundo, só perdendo mesmo para a original em Munique, na Alemanha;

- Uma região serrana que recebe neve e muitos turistas todos os anos;

- Laguna, a terra de Anita Garibaldi e cidade principal do movimento separatista da Revolução Farroupilha;

- Beto Carrero World, um parque temático para os aficionados do gênero;
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- Camboriú da velha guarda, a preferida das famílias, idosos e argentinos (se bem que estes últimos estão por toda a parte no estado, desde que o lugar escolhido tenha praia!);

- Praia do Pinho, a primeira oficial de naturismo no Brasil. (Nudismo virou naturismo, entendeu?);

- Pomerode, Nova Trento e Treze Tílias, principais representantes da arquitetura e das tradições alemã, italiana e austríaca, respectivamente;

- Rendeiras que preservam a tradição herdada dos colonos açorianos: o crivo. Um bordado doido que, para formar lindos desenhos, primeiro tem que desfiar todo o tecido;

- Joinville, pólo industrial com vocação para serviços. Vive brigando com Londrina na disputa pelo 3º lugar de maior cidade do sul do país. Tem a melhor escola de balé do Brasil e, ainda, Tia Esperança, Aninha e Moisés que - para mim - já são mais do que um ótimo motivo para visitar a cidade;

- Resorts como o Costão do Santinho, para quem ainda prefere um piscinão às praias;

- Madre Paulina, imigrante italiana que adotou o Brasil aos nove anos de idade. É a primeira (e única) santa “brasileira”. Há vários santuários dela espalhados pelo estado, mas o principal fica em Nova Trento, considerado a 2ª maior estância turístico-religiosa do Brasil. A primeira é Aparecida, em São Paulo;


- Águas cristalinas em Quatro Ilhas, uma das praias de Bombinhas, outro município famoso cheio de enseadas e costões;

- Comida muito boa: ostras gratinadas no litoral, marreco recheado no Vale do Itajaí e sopa de pinhão na serra.

Simplesmente tudo num raio de 200 quilômetros da capital - agora, sim, entendo - o metro quadrado mais caro do Brasil. (Sem contar a especulação imobiliária, obviamente). E olha que quase nem falei, ainda, da própria Florianópolis. Mas essa conversa já é para o próximo post.

Fotos: Raul Mattar

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