segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Turismo étnico cria Rota do Escravo no Brasil

Olha só que coisa mais brasileira: uma rota turística que mostra a história e a cultura dos negros. Para reconstruir essa trajetória, a Fundação Cultural Palmares - órgão ligado ao Ministério da Cultura – apresentou (e colocou em prática) um projeto audacioso: mapear 18 cidades do interior de São Paulo para formar a Rota do Escravo. Cidades do Litoral Norte, Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira fazem parte do roteiro. Durante o caminho, que pode durar alguns dias, é possível conhecer a gastronomia típica, documentos do período escravocrata e construções históricas.

São seis roteiros diferentes. Cada um aborda de maneira distinta a cultura negra. Ali por Taubaté e Pindamonhagaba é possível aprender um pouco mais sobre a história dos Barões do Café, que tiveram em suas fazendos pura mão de obra negra - escrava ou não. Passando pela antiga São Luís do Paraitinga é a chance de conhecer o que foi a movimentação popular pela Abolição da Escravatura. Para entrar no universo religioso da tradição afro-brasileira, o passeio tem início em Piquete e vai até Cruzeiro ou Cunha.

Além de criar uma rota tão nossa, o projeto vai ajudar a descobrir quem são os verdadeiros descendentes de quilombolas – nome dado pelos historiadores aos moradores dos quilombos. Infelizmente, não posso descrever detalhadamente o roteiro porque não estive por lá ainda, mas achei bacana deixar registrado aqui. Não sei não, mas acho que é o único do gênero do mundo.

20 de novembro: Dia da Consciência Negra.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

O título de "viajada"

Tenho mania de colecionar certificados e diplomas. Deve ser algum complexo de inferioridade ou medo de ficar – ou parecer - burra. Não que certificados e diplomas deixem a gente mais inteligente, mas estudar nunca teve nenhuma contra-indicação. Estes dias me perguntaram por que eu estava fazendo doutorado se nem professora eu era. Credo, que gente invejosa! O fato de estudar (e isso pode incluir apenas ler um bom livro ou assistir a um bom filme) só me torna uma pessoa melhor: mais centrada nos meus propósitos, voltada aos meus projetos e menos preocupada com a vida dos outros.

Mas uma coisa é verdade. Existem títulos que a gente só tem porque pagou o curso. O meu certificado de inglês com 250 horas de aula, por exemplo, é um desses. Outros até aproveitei bem. Fiz corte e costura no Sesc, word no Senac e aulas de Português com o Professor Carlos, em Londrina. Tudo devidamente certificado. Antes já tinha sido influenciada pela mãe que imagina um futuro melhor para o filho: enfrentei aulas de balé (12 anos), pintura em porcelana (cinco anos) e piano (um mês). Até que no meio dessas histórias/cursos eu resolvi começar a viajar. Aos 14 anos fiz uma excursão com os amigos do Colégio Hugo Simas, onde estudei da 1ª a 8ª série. Fui para a Serra Gaúcha. Conheci em uma semaninha Garibaldi, Bento Gonçalves, Canela, Gramado, vinícolas e um dos melhores chocolates do Brasil. Naqueles sete dias aprendi tanta coisa, vi tanta gente, conheci tanta história, tantos personagens... que matutei: quando eu crescer quero ser VIAJANTE!

Primeiro pensei em ser aeromoça, mas me barraram no cursinho preparatório. Naquele tempo tinha que ter altura mínima. Acha? Depois insisti no balé. Pelo menos com o grupo de dança eu viajava para muitos lugares e cheguei a conhecer, com o corpo de baile, o nordeste brasileiro de ônibus! Daí resolvi ser jornalista e a coisa degringolou de vez. Comecei a ter más companhias e, com outra jornalista, fiz minha primeira viagem para a Europa, depois para o Oriente Médio e outras tantas pelo Brasil. Até que um dia, discutindo sobre antropologia (tema que não domino lhufas) com um grupo de amigos, um deles lança: pergunta para a Silvinha, ela é viajada! Foi aí que me dei conta: ser viajada nos inclui naquele grupo de pessoas que todo mundo acha que podemos opinar sobre história, política, museus, astronomia, moda, horóscopo e até antropologia!!!

Acontece que viajar não nos dá esse passaporte para o mundo do conhecimento, assim, de bandeja. Vai conhecer Manaus? Tem que ler sobre o ciclo da borracha. Gostaria de ver de perto o Alhambra, em Granada? Entenda o que foi o domínio árabe na Espanha. Quer ir para Blumenau? É recomendável buscar alguma informação sobre os fluxos migratórios do sul. Está interessado na Rota do Vinho chilena? Aprenda sobre tanino. (Por isso, nunca fiz essa viagem, não consigo entender a religião dos vinhos). Mas meu amigo Gerson, esse – sim – viajadérrimo, está me ensinando muito sobre vinícolas, taças e safras. Foi ele, inclusive, quem me explicou sobre o t-a-n-i-n-o.

É claro, os viajados e as viajadas não estão habilitados a sair dando opinião sobre tudo ou qualquer coisa. Principalmente aqueles que só viajam em excursão, nunca pegam um metrô, não visitam as feiras livres, só comem nos restaurantes indicados pelos guias tradicionais, não se interessam pelos nativos nem pela história do lugar. Mas ainda que seja um título poético, o de viajada é o meu preferido. Afinal, não precisa nem ser rico para ter um. E é bem mais legal que ser inteligente. Rá rá rá.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Saudades de Sevilha...

Juro. Não mexi no céu. O Photoshop não serve para nada em Sevilha. Os anoiteceres da capital andaluza - por volta das 22h no verão - são sempre assim.

No lugar certo, na hora certa. Palácio Real Alcázar. São 10 minutos de sombra, entre 18h50 e 19h. Na parede de mosaicos árabes o reflexo da arquitetura moura. Patrimônio da Humanidade.

Faltaram as castanholas.

A Giralda. É o minarete da antiga mesquita - a Espanha esteve sob domínio árabe por séculos. Hoje, o campanário da catedral. Ao lado, seus arredores.



Deu saudades. Daqui a cinco meses tenho de voltar para lá. Mais uma etapa do doutorado. Prometo tirar fotos das castanholas.

Fotos: Matraca´s Image Bank

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domingo, 5 de novembro de 2006

O milagre de Arraial D´Ajuda


Quando venho para a Costa do Descobrimento divido assim: Porto Seguro pela história, Trancoso pela fama e Arraial D´Ajuda porque simplesmente não existe nada igual. Este povoado, separado de Porto Seguro pelo Rio Buranhén, já foi rota de peregrinação religiosa há 450 anos. Hoje é referência pelas belíssimas praias, como a do Mucugê, e pela deliciosa “Bróduei” - um caminho estreito e colorido de lojas e barzinhos agitados. São dezenas de cabanas e restaurantes de praia super descolados, alternativos e com preços honestos. A psicodélica Arraial é um negocinho desse tamanim, mas abriga mais de 150 pousadas e alguns resorts. Sim, os europeus já descobriram o aconchego dessa alegórica praia brasileira.

O que pouca gente sabe...

O primeiro Santuário Mariano do Brasil está aqui. O Arraial de Nossa Senhora foi uma homenagem a Tomé de Souza e aos primeiros jesuítas que aqui chegaram em 1549, com suas 03 naus: Conceição, Salvador e Ajuda - que acabaram virando nomes de povoados e de suas primeiras igrejas. Diversos milagres foram atribuídos à Fonte de Nossa Senhora D'Ajuda – ainda em pé e aberta à visitação. Os relatos de fé passaram a atrair muita gente e assim os jesuítas abriam as portas de casa para abrigar os romeiros. A partir da década de 70 virou refúgio dos hippies que vinham na rota de Arembepe. E depois disso, você sabe: vieram as celebridades e depois nós, os mortais.

SERVIÇO:

Você pode chegar até Arraial D’Ajuda pegando uma balsa em Porto Seguro. A travessia funciona todos os dias das 7h até às 20h, com intervalos de 20 minutos. Depois, o embarque é de uma em uma hora até às 7h. Ao desembarcar em Arraial é necessário pegar um ônibus ou lotação para chegar ao centrinho. São 4 km. De Arraial D’Ajuda para Trancoso existem ônibus e vans particulares que saem a toda hora de vários pontos da cidade. Se preferir alugue um carro ou moto e faça o trajeto por conta. O trecho já foi asfaltado.
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Arraial D`Ajuda combina com

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Mar e montanha em PORTO SEGURO

Pelo menos uma vez ao dia o mar vira sertão, em Porto Seguro. Quando a maré baixa, enormes piscinas naturais se formam lá no meio do Atlântico. Coroa Alta - a 3,5 km da costa e Recife de Fora - a 9 km - são os mais concorridos. Não precisa comprar as excursões da CVC ou da Panex, que cobram entre R$ 40 e R$ 60,00 pelo passeio. É possível ir sozinho. Existem dezenas de agências pela cidade que oferecem o mesmo percurso por R$ 15,00. Navegando pelo Rio Tiba, ao longo da ilhas de corais, que separa o rio do mar, a gente chega à Coroa Alta. Há várias piscinas naturais e é possível caminhar pelo banco de areia, que surge no meio do mar aberto. Na verdade, de areia o banco tem muito pouco, são formações milenares de detritos marinhos. Por isso, já sabe: nada de trazer "conchinha" para casa. Deixe tudo o que é de lá, lá mesmo.

Em Recife de Fora, a diversidade biológica é semelhante à de Abrolhos, onde são encontradas várias espécies de corais e peixes como paru, peixe-frade, moreia, arraia, budião-papagaio, além de moluscos e tartarugas. As escunas que levam aos bancos de areia e coral partem de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. Leve máscara de mergulho e tênis para não cortar os pés nos corais. Mas se você esquecer dos apetrechos, não se preocupe. Na hora de embarcar aparecem, não se sabe de onde, dezenas de nativos que alugam - bem baratinho - tudo o que você precisa para desfrutar do passeio.

Andando na direção contrária, a 70 quilômetros para o interior está o Parque Nacional de Monte Pascoal. Foi o seu topo que Cabral avistou quando chegava a nossa terra. São 14 mil hectares de uma deslumbrante mata atlântica preservada. Os 535 metros de altitude se transformam numa rampa de 1,5 km, convertida em uma hora de caminhada. Em dias de chuva o Parque fica interditado para turistas, por perigo de deslizamento. Se fizer sol, não perca tempo. Passe um dia em Monte Pascoal e entenda por que Pero Vaz de Caminha não se cansou de elogiar a Terra de Vera Cruz em suas cartas para o rei de Portugal.
Foto: Trek Lens
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