sexta-feira, 30 de junho de 2006

PARINTINS: Caprichoso X Garantido

No Festival de Parintins a disputa entre os dois bois é mais perturbadora que uma final (toc, toc, toc) entre Brasil e Argentina que - graças a Deus - não vai ser desta vez. O Caprichoso, é o boi da elite – dizem. O Garantido tem a força do povão - comentam. O primeiro ousa mais, aprecia a técnica e a arte do bumbá. O segundo prefere a tradição, o popular e aposta no trivial. Seria mais ou menos como a velha rixa entre PSDB e PT - no tempo em que o PT ainda era o partido dos trabalhadores, claro.

O que faz Parintins ser o maior espetáculo da terra é a aventura de juntar - numa ilha perdida - puro folclore regional, um espetáculo intrigante e a imprensa do mundo todo. Tudo isso no meio da selva. E não no Rio de Janeiro, cidade que por si só já atrairia a mídia internacional. Abreviando a história: é uma mistura de São João com a lenda do boi que morre e ressuscita. O segredo da magia está justamente na paixão em defender uma lenda, contando uma fábula de todas as formas e com diferentes fantasias possíveis.

São três noites com três horas para cada boi. Seis horas de festa por dia. A cada noite a mesma história contada com uma apresentação diferente. É como assistir durante três dias, três apresentações diferentes da Beija-Flor e da Mangueira, (numa comparaçãozinha bem chinfrim e injusta) - porque na minha visão apaixonada o Festival de Parintins não tem mesmo nenhuma comparação!

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quinta-feira, 29 de junho de 2006

PARINTINS: buuuumba o coração!

O maior espetáculo da terra acontece aqui. Parintins (a 20 horas de barco de Manaus, no Amazonas) está, neste fim de junho, igualzinha - ou pior - a uma decisão de copa do mundo. A diferença é que os dois adversários são brasileiríssimos. De um lado o vermelho do Boi Garantido. Do outro, o azulão do Boi Caprichoso. O Festival Folclórico de Parintins é o mais importante Boi Bumbá da Amazônia. A festa divide um mesmo povo. Quem é "Garantido” nem pronuncia o nome do outro - o "Caprichoso", que passa a ser chamado de “Contrário” e vice-versa.

AZUL X VERMELHO

Localizada na Ilha de Tupinambarana e banhada pelo gigantão rio Amazonas, a cidade está metade azul metade vermelha. Literalmente. É surpreendente ver o que os nativos fazem para defender a bandeira do seu boi. No lado vermelho do povoado, onde está o curral do Boi Garantido até as placas de rua seguem a cor do boi do povão. Enquanto que na parte do Curral do Caprichoso a Coca-Cola (patrocinadora oficial do evento) teve que mudar a logomarca.

VERMELHÔ, O CURRAL...

Isso é o que a gente vê de dia. À noite, o Bumbódromo – lugar de apresentação dos bois – recebe 80 mil pessoas, gente do mundo inteiro. A televisão italiana vem fazer documentário, a alemã manda correspondente e eu, quando fui, fiquei hospedada no mesmo quarto dos enviados da Reuters e da Times. O Festival de Parintins ainda tem mais projeção lá fora do que aqui.

Mas o que atrai tanto? Você pode até achar que a Festa do Boi Bumbá de Parintins é uma carnaval amazonense. Nananinanô. A apresentação inclui - sim - música, puxador, fantasia, alas e alegorias. Mas é no conjunto folclórico, inspirado em lendas de pajelanças indígenas de várias tribos e costumes caboclos da amazônia, que está toda a diferença. Mulher pelada não tem vez. Só se for para representar os primeiros habitantes da ilha e olhe lá! Artista da Globo, só no camarote da Caras. Para entrar na arena, tem que ser gente daqui. Lembra do Davi Assayag, aquele cantor cego que ficou conhecido nacionalmente ao lado da Fafá de Belém cantando “Vermelhô, o curral, a ideologia do folclore avermelhou...”? Pois o homem é parintinense da gema e é o puxador oficial de toadas do Boi Garantido.

MAS A VACA É AMARELA

E porque um BOI? Tratando-se de Amazonas talvez fosse interessante incluir na festa a onça pintada ou a sucuri. Não o boi. Mas uma explicação no site oficial da festa diz que foi uma conseqüência do ciclo da borracha, quando muitos nordestinos vieram para cá trabalhar na extração do látex. Eram de uma região pecuarista e trouxeram seus costumes, como o Bumba-Meu-Boi das festas juninas.

Entre tantas curiosidades deste festival uma me deixou petrificada. Quando o Boi Caprichoso – o azul - entra na arena, por exemplo, toda a arquibancada vermelha fica muda, calada, nem um pio. Brincam de vaca amarela e pronto. O mesmo ocorre quando o Boi Garantido – o vermelho - inicia a apresentação. Os azulões que quase perdiam os bofes de tanto gritar e torcer, simplesmente sentam e se calam. Até o fim da apresentação. São três horas para cada boi.


Enquanto os jurados somente utilizam canetas de cor verde, para não haver influência no resultado por causa das cores (é ou não é pior que uma final de copa do mundo?) o turista que vem de fora fica arrebatado com a festa. Os bois têm um magnetismo fascinante e mesmo a gente, que não entende muito bem o regulamento do festival, acaba adotando um deles. O certo é que – no meio de tanta contenda – depois de três dias confinada nesta ilha é fácil compreender a principal regra do jogo: um boi não existe sem o outro.
Sem amarelar!
Tela: "Festa da Natureza", de Glemberg Nascimento Castro, vencedor do concurso para o cartaz do Festival 2006

Nota: Todos os anos, desde sempre, o Festival de Parintins é realizado nos dias 28, 29 e 30/06. Este ano o evento mudou para os dias 30/06 e 01 e 02/07.

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domingo, 25 de junho de 2006

Varig, Varig, Varig...

Sou do tempo em que viajar pela Varig era como chegar ao topo da pirâmide social de um turista. O menu era internacional. Os talheres, de prata e a passagem, a mais cara. Só por isso, qualquer voozinho de 45 minutos pela Viação Aérea Rio-Grandense nos enquadrava interinamente como “ricos”. Escolher a Varig era, também, uma decisão “inteligente”: pagava-se um pouco mais, mas o plano de milhas da companhia – associada à Star Alliance – era o melhor do mundo. Por fim, sendo a companhia brasileira que voava para mais destinos – nacionais e internacionais – dar preferência à Varig nos tornava “viajados”. E esse era o título mais simpático que a empresa poderia nos dar: afinal ser viajado é ainda bem mais interessante que ser rico ou inteligente.

Há alguns anos, numa incrível abertura do reverso, viajar pela Varig virou motivo de chacota. Os aviões foram ficando velhos e a comida - que teve até caviar! - se reduziu a sanduichinhos de presunto e queijo. O único que não mudou foi o preço dos bilhetes: sempre o mais caro. Ou seja, viajar pela Varig nos últimos tempos nos dava a denominação honorífica de acéfalo. Já o salseiro atual nos aeroportos - quando os vôos são cancelados - escreve na nossa testa exilado. De viajados passamos, por motivos de força maior, a turistas burros e expatriados.

Logo agora que fui promovida ao cartão prata do Smiles, a Varig resolve simplesmente falir! A empresa -ironicamente- não assume, o governo -sabiamente- ignora, os funcionários -discretamente- desconhecem. Na verdade, nem eu acredito. Seja lá qual for o desfecho dessa história, todo mundo sai perdendo: o Brasil que assiste ao fim de um orgulho nacional; os empregados que vão aumentar a fila do Sine; os passageiros que engrossarão a lista do Procon e eu, que provavelmente perderei minhas milhas acumuladas e, conseqüentemente, algumas viagens de graça. Que graça tem isso? Definitivamente, não acredito.


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segunda-feira, 19 de junho de 2006

SEVILHA: nem todos são toureiros!

Abra o leque. Prepare as castanholas. Peça uma sangria. Aqui, mais do que em qualquer lugar da Espanha, você pode gritar: oooolééé! A capital da Andaluzia transpira aquele tradicional conceito arraigado na nossa cabeça de que todos os espanhóis são toureiros e de que todas as espanholas dançam o flamenco, baile típico andaluz. É mais ou menos como achar que todo brasileiro sabe sambar ou que todo argentino termina suas noites em uma casa de tango.
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Um grande amigo meu, professor, doutor e muito viajado me disse que sua cidade eleita na Espanha é Sevilha. Eu ainda prefiro Barcelona, mas reconheço a força desta paragem andaluza, que representa uma região inteira de puro sangue quente! Não falo só da explosão do temperamento. Mas também da paixão pela música Flamenca e da adrenalina aterrorizadora das Touradas.

Não é difícil compreender porque Sevilha acabou se transformando em um ícone espanhol. É justamente aqui que podemos confirmar todos os nossos estereótipos em relação à Espanha: praias, touradas, sevilhanas, pueblos de casas brancas, tapas (petisco espanhol), vinho xerez e infinitas procissões religiosas.

Sevilha ferve! O ano inteiro. É a 4ª maior cidade espanhola, depois de Madri, Barcelona e Valencia. Moura, dourada e às margens de um rio de nome complicado, o Guadalquivir, a cidade traz em cada esquina sete séculos de domínio árabe. Guada, que significa rio, vem do árabe wadi e dá origem a muitas palavras espanholas. Guadalquivir quer dizer “rio grande”. (Guadalajara, por exemplo, significa “rio das pedras”.)

Não dá para entender Sevilha sem saber um pouquinho de história. A Andaluzia foi conquistada no ano 711 d.C. pelos árabes que levaram para o sul da Espanha a rica arquitetura moura, deixando parte de sua harmonia musical na origem do flamenco.

Obviamente, com a reconquista pelos cristãos parte desta herança foi mitigada. Mesmo assim, metade da cidade é declarada Patrimônio da Humanidade. Só por isso já valeria uma visita de, pelo menos, três dias! Eu fiquei dois meses.

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Fotos: Matraca´s Image Bank
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domingo, 11 de junho de 2006

ESPANHA: o idioma do ¡poquito!

Na Espanha você precisa saber que pelado é um homem careca, que exquisito (com “x”) é algo muito gostoso, que largo é comprido e que caray é só uma interjeição que quer dizer vixe maria! É que não existe brasileiro a quem você pergunte ¿Hablas español?, que ele não responda: ¡Poquito! Todos nós temos essa falsa sensação de saber falar um pouco o espanhol e não nos damos conta (até a começar a estudar o dito cujo de verdade) que é uma língua complexa, cheia de manhas, exceções e parece que nasceu para pregar peças em brasileiros desavisados. E não se iluda: você até pode compreender o que eles dizem – desde que falem bem devagar – mas eles (quase) nunca poderão compreender você.

Para piorar – ou deixar mais excitante – a Espanha tem outros três idiomas oficiais: catalão (uma mistura de espanhol com francês), o galego (bem parecidinho com o português) e o euskara (só um estudioso de hieróglifos para decifrar). Este último acho que é uma mistura de russo com alemão mais um dialeto próprio. Na verdade nunca sei. Mas sei que é impenetrável. Não existe diferença entre castellano e español. É o mesmo idioma, o que muda são os regionalismos. Assim, como o português de Portugal e o português do Brasil.

Já o Catalão você vai conhecer quando andar pela Catalunha, cuja capital é ninguém menos que a vedete da Espanha: Barcelona. O Galego é possível escutar (e até falar um pouquinho) na Galícia, no norte do país onde está a cidade de Santiago de Compostela, ponto final dos peregrinos que fazem o caminho cristão. Já o Euskara, você vai encontrar no País Basco. Falei que esse último era meio esquisito. (Não confunda: esquisito com “s” é em português e significa algo muito estranho, desconhecido ou exótico). Olha só: galego vem da Galícia, catalão da Catalunha e o Euskara vem do País Basco. País Basco? Não combina. Devia ser algo assim como basquiano ou basquemês. Né, não?



quinta-feira, 8 de junho de 2006

ESPANHA: la siesta nuestra

A siesta é o maior patrimônio zen-erudito-cultural da Espanha. É uma espécie de meditação ibérica que ocorre sempre depois do almoço e vai até umas cinco da tarde. Ou seja, depois de forrar a pança os espanhóis ficam em um estado sonolento – nem alfa, nem ômega – em que se dão o direito de dormir ou descansar por, pelo menos, uma horinha antes de voltar ao batente.

Nem todas as lojas e escritórios fecham no período de siesta como antigamente, mas é tão cultural tirar essa sonequinha no meio da tarde que boa parte do comércio baixa as portas das 14h às 17h. Os espanhóis adotaram esta tradição como uma forma prática de lidar com o calor intenso do verão europeu. Eu, como notívaga assumida, não perco por nada esse momento yoga-de-ser do espanhol.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

ESPANHA: venha para cá se...

... você gosta de presunto com marca, selo de origem e divisão por estrelas;

... você tem fascínio pelos pintores cubistas, surrealistas e pela arquitetura moderna;

... você gosta de Goya e Velásquez e de arquitetura antiga;

... você gosta dos filmes de Pedro Alomodóvar;

... você não gosta dos filmes de Pedro Almodóvar, porque tem outros tipos de loucos por aqui também. De um deles você tem que gostar. Salvador Dalí, por exemplo;

... você gosta de praias de cartão postal com mar azul-turquesa-esverdeado-quase-transparente;

... você gosta de praias com areias negras formadas pela lava dos vulcões e que prometem fazer milagres pela sua pele;

... você gosta de história, de tradição e festa popular;

... você gosta de eco-turismo – o país tem 13 parques nacionais;

... você gosta de caminhar... muito. O Caminho de Santiago de Compostela oferece uns 800 km para isso;

... você ama sangria, tinto verano (indicação da minha amiga Pati) e, sobretudo, vinho de primeira;

... você admira a historia de Dom Quixote de La Mancha (e aquela gracinha do Sancho Pança), a obra de Miguel de Cervantes que inaugurou a literatura moderna;

... o seu coração dispara ao escutar o barulho das castanholas;

... você adora uma tourada;

... você odeia uma tourada. Invariavelmente tem sempre alguém torcendo pelo touro;

... você é apaixonado pelo simples fato de viajar e encontrar gente feliz!

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PORTUGAL